segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Tão queimando dinheiro o_o


Não entendo como, mas ler ‘A arte de escrever’ tem me deixado com borboletas no estômago.


Nesse novo ano... As palavras irão fluir de uma fonte inesgotável e um sorriso despontará quando isso não for mais problema e as idéias ganharem cor, forma, tamanho, vida.

Que a capacidade de imaginar e a loucura do pensar sempre nos acompanhe, porque sem isso nenhuma palavra terá sabor.

Amém.


Romper de ano e as pessoas correm em busca de roupas novas ou de um bilhete para ingressar na viagem às 23h do dia 31 com a quase certeza de que conseguirá fazer uma viagem de cinco horas em cinqüenta e nove minutos para chegar com gostinho de viagem, ou vômito.

Bem, isso na verdade devia ser uma nota para os leitores, let’s go !

Para todos que acompanharam minhas idas e vindas nesses textos sem pé nem cabeça, minhas loucuras mal escritas e prolixas, todos que tiveram paciência em ler a mesma coisa escrita de maneiras diferentes, gastaram seu tempo tentando entender qualquer coisa sem sentido e fizeram a alegria de estar sempre comigo é com grande calor no coração que agradeço pela companhia, meus velhos e grandes companheiros de viagem, que sempre navegam comigo pelos mais diversos oceanos do pensamento.

Caravelas dispostas, marinheiros sempre em frente de batalha, e eu mexendo com os palitinhos em historias que talvez nunca tenham um fim...

Hoje coloco meus marinheiros em mais um barco, porque ‘todo abismo é navegável a barquinhos de papel’.


Sou grata por saber que não estou só.

A solidão... aaah, a solidão...deixa isso pra outra hora, são outros quinhentos.


Que a loucura sempre esteja com você!


Engraçado pensar que é um dia como outro qualquer.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

''A arte de escrever''


Enquanto a inspiração não vem vamos a mais um intervalo comercial pra não chegar o Natal e eu passar em branco.


"...deve-se evitar toda prolixidade e todo entrelaçamento de observações que não valem o esforço da leitura. É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela."
Schopenhauer (1788-1860)

..Aaah Shopenho >.< estou tentando...estou tentando...

Sempre soube que para escrever bem e colocar as idéias de forma interessante no papel eu teria que ler mais mais e mais.
Dessa vez correrei para os braços de filósofos...
Nesse novo ano nascerá a verdadeira criadora de idéias que vive em mim.

Parteiros : Nietzsche e Schopenhauer
Se o parto for difícil talvez tenha que recorrer a mais alguns.

Tenham paciência !
Estou em reformas para melhor atende-los.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Plim Plim

Paramos essa programação para um rápido intervalo comercial.

'Não existe nada mais forte que o desejo.
Então, se eu desejar bastante posso ficar sossegada que dará tudo certo.


...Sonho que se sonha só... também é realidade.


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A melhor maneira de realizar os seus sonhos é acordar. (Paul Valéry)


As melhores histórias são feitas quando estamos assustados, com medo ou passando por algum problema...


Sentada embaixo da árvore encostei-me ao tronco para amenizar a sensação de que apareceria algum animal por trás. Estava tudo quieto desde que desci e fiquei ali parada esperando o dia amanhecer, quem saberia quantas horas eu estava naquela posição, o tempo escorria como um rio calmo e sereno, mas algo me incomodava seriamente quanto a isso.

O céu nos mostra o passado das estrelas e de todo o cosmo, a luz que vemos hoje levou centenas de anos para atravessar o universo e atingir nossos olhos. Nitidamente eu só via a lua e mesmo sem saber onde estava uma certeza ainda se firmava: Sempre estaremos sob o mesmo céu. Só havia uma explicação.

Na minha mente algo estava sumindo, evoquei minhas lembranças e tentei deixar as imagens congeladas por um alguns instantes, não é tão fácil quanto parece, ‘ponto fixo ponto fixo ponto fixo’ repeti enquanto olhava para o mato, mas pra meu terror o ponto fixo começou a se mexer. Um gato branco e castanho saiu e andou pelo local, sentou.


Em torno do livro uma massa cinzenta e mole era absorvida com dificuldade se misturando com um felino que passava no momento.


Para meu espanto amanheceu depressa.

Aparecer ali de noite de alguma forma havia sido proveitoso, olhar o deslocamento da lua me dava às coordenadas de onde eu estava e, ou eu fiquei louca ou o sol estava surgindo do oeste.

A minha certeza era no fundo uma brincadeira, mas parecia me dar uma direção.

O tempo flui para trás, indo para frente estamos voltando.



- Continuação do post de 04/12/2008


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Senta que lá vêm história...


Alguma semelhança é mera coincidência.


Estava debruçada no beiral da janela.

Fazia tempo que a noite não se mostrava tão bela, e com a lamparina acesa folheava as tantas folhas com cheirinho de novas do grosso livro de capa marrom.

O vento nos céus fez sair uma nuvem que estava na frente da lua, senti uma mão pelas minhas costas, macia e leve, que deslizava por sobre o tecido do vestido de dormir, senti o livro escorregar pelos meus dedos e cair no meu próprio colo. Uma sensação de que ele estava virando água se misturou com a imagem que tive dos meus braços que se liquefaziam pingando sobre o livro que agora o vento passava as folhas, aos poucos o que sobrava de mim sabia que em breve eu não estaria mais ali. O livro que agora já estava no chão parou numa página e a última coisa que lembro foi dos meus olhos terem saltado das órbitas e serem absorvidos pelas folhas de papel embrenhadas por uma lama, que era absorvida aos poucos, e outrora não passava de mim mesma.

Aos poucos senti que estava sentada em um lugar diferente, com árvores de troncos largos e de tamanhos imensuráveis, plantas se entrelaçavam por todos os locais, talvez ali chovesse todos os dias, eram tantas e uma terra tão úmida que até para andar se tornava complicado.

De repente me abracei a uma árvore, não que eu quisesse trocar energias com ela, mas precisava ir a um local alto para ter noção de como sair dali. De alguma forma subi, a coluna não ajuda por causa da vida sedentária, mas depois de passar por alguns galhos e ver que a roupa não havia virado lama e ido junto pra onde quer que fosse me senti um pouco solta amarrando uma folha com dificuldade; o que a cultura não faz, e a mente não ajuda, uma folha nessa situação atrapalha até porque tem que ficar segurando, mas alguma coisa tem que consolar o lado psicológico.

Entre um largo espaço da copa vislumbrei uma lua mostarda e de brilho fosco, pequena, mas majestosa com seu aparente tamanho de bola de golfe.

Ventava forte e balançava o galho, desci mais lentamente do que subi, um frio estranho se apoderava de mim e vinha do coração.

Estava escuro demais para se ver alguma coisa, melhor assim.


Mr. Repetição está dentro de cada um de nós; tenho batido nele constantemente com o travesseiro, mas o ômi’ se recusa a ir embora.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

..Tenha paciência comigo...

Quando fico nervosa meu coração pára de bater e eu sinto um frio se alastrando pelo meu corpo a partir do peito.

Tenho a cabeça borbulhando de idéias. Qual delas irá nascer primeiro?

Minha cabeça dói e ferve como uma panela de pressão.

Não sou boa em esboços. Quero todas as idéias na rua de uma vez por todas.

Minha mente trabalha sozinha fazendo coisas que eu não consigo acompanhar. O que eu sou, meu deus?


Faz frio no meu coração.


Nada aqui faz sentido pleno, mas como chegar a plenitude sem o caos absoluto?

Estou me afogando aos poucos nesse imenso mar em que estou submersa.

Não quero que me salvem. Se essa for a única vez em que estarei assim, prefiro morrer antes do fim do mundo, pois nada mais fará sentido.

É difícil de entender aquilo que ainda não se conhece dentro de você.

Sabe, eu tive algumas idéias e elas foram a causa desse meu desespero e de toda a minha dor.
De um momento pra outro imaginei você me matando. Não tive coragem de perguntar se algum dia isso já passou pela sua cabeça (até porque falávamos de trivialidades do cotidiano).
Pensei em ligar isso com o sonho que tive, pode ser até fixação minha como tantas outras vezes, mas quero acreditar que isso seja algo mais.
Nada sai de sua cabeça se não houver motivos para o despertar.
Dependendo do dia e da hora em que lê isso, talvez não faça idéia sobre o que estou falando, nem eu mesma sei, mas isso irá se esclarecer em breve, apenas espero que não tenha um desfecho trágico e sem graça.

Está ventando hoje também.

O vento espalha as sementes e concentra as dimensões. As dimensões paralelas entre sonhos, vidas passadas e o que chamamos de real.
Eu ainda vou encontrá-lo, mesmo que seja dentro dos meus sonhos.
Não pode acabar sem ter ao menos começado, vou buscá-lo com minhas forças dentro de mim aonde quer que ele esteja.


...eu vou te contar o que há aqui...mas me faltam palavras...


Esses tempos reparei que fugindo de todos os padrões que estabeleci eu uso o blog como um diário de viagem.

Até onde eu irei?
Até onde você irá comigo? .

[dessa vez as pequenas frases que acompanham o início e o fim dos textos viraram o próprio.]

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Quem irá me ajudar...quem irá...Irá...belo nome.

Um caminho sem volta... Só me resta esperar ou inventar meu próprio final.

Naquela hora meu coração palpitava e me fazia sentir um frio que rodava por todo o meu estômago.

Aquelas palavras caíram como uma pedra na minha cabeça.

‘É o seu livro, você precisa ler da próxima vez que sonhar com isso, é o livro que você deve escrever. Aquele que você espera pra escrever. ’

As idéias se turvaram na minha mente, seria possível a história que eu tanto espero sair dos sonhos? Talvez eu deva ter mais cuidado com o que penso, de uns tempos pra cá coisas que mentalizo se tornam realidade com maior freqüência, e eu com essas manias de pensar em desastres posso acabar atraindo péssimas situações.

Triste pensar que vou depender de um sonho pra continuar aquilo que em minha mente borbulha. Saber que o que sonhei foi uma fumaça daquilo que se projeta em algum lugar escuro e sombrio no labirinto da minha mente, formado sem eu mesma saber.

Pode ter sido apenas um despertar, um sussurro, uma piada de mau gosto, mas agora não há mais volta, pois o sonho está começando a se materializar, se é que letras materializam coisa alguma.

Está ventando lá fora. Na hora em que sonhei também ventava.


Engraçado que quando acordei pensei na possibilidade dele ser meu filho...

Loucura Contagiosa apresenta :
Especial de Natal


São três da manhã e pelo visto devo acabar as mudanças em instantes *gritinhos de alegria*, olhando agora até que não fiz muita coisa, mas não se engane, isso deu muito trabalho pra mudar.

"As pequenas mudanças são feitas ao decorrer da vida..' *Momento Sabedoria*


Não estou pronta pra falar algo mais; não sei porque, só que tenho a sensação de que ainda falta algo.

"Você pode ter revelações em seus sonhos..' *Momento Sabedoria [2]*

Talvez eu ainda esteja em fase de transição.


Até breve.


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

ipi ipi

.Em obras.
-Fechado pra balanço-


Queria escrever sobre as coisas que aprendi, mas parece que por enquanto vou ter que esperar, talvez ainda não seja a hora.


.Quando não houver mais nada para inventar devemos destruir o mundo.

domingo, 16 de novembro de 2008

Cabeças vão rolar...

Matéria que não foi ao ar.

16 de novembro de 2008.
Um aglomerado de estudantes em toda Salvador foi encontrado disperso pela cidade a pé, no ônibus ou, na maioria das vezes, de carro em direção as inúmeras escolas públicas do município. O motivo dessa grande movimentação em pleno domingo de sol, calor e praia foi o famigerado vestibular da UFBA.
Remelentos, doentes, melequentos, pobres famintos e miseráveis (talvez não tão miseráveis, contudo, pobres e famintos já que provavelmente pagaram pela inscrição), nervosos, estressados e apeladores da misericórdia divina foram em busca de um bom resultado nessa manhã engarrafada e caótica, aproveitando para no caminho jogar pedra nos concorrentes ou até mesmo depois de se encontrarem nos seus devidos locais de prova esperando a confirmação de que os pais bateram seus carros atrapalhando a movimentação dos possíveis concorrentes.
É tempo de guerra declarada.
Nesses momentos não importa se o seu vizinho vai fazer a prova na mesma escola que você, é mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha do que fornecer uma carona nessas horas.
Um litro de água não seria o suficiente se tratando de cinco horas de prova, portanto, não era difícil encontrar as pessoas com uma sacola com três a quatro garrafas de 500 ml, biscoito, pão, chocolate, pijama, miojo, passaporte, toalha, sabonete e em casos mais raros um pinico compacto para não ser necessário sair da sala enquanto estivesse resolvendo a prova, já que tanta água bebida deveria sair em algum momento por algum lugar.
No fim, as caras de sono, desespero e overdose, por terem comido tanto chocolate, iam se dissipando com um sopro de ar a cada passo a espera do novo dia e da próxima prova.

Não desejarei sorte, companheiros e concorrentes, afinal de contas também faço parte desse bolo.
Para os que ficam, Hasta La Vista Babe! .


Porque os jovens não passam de uma sinfonia de tosses e espirros alternados.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

..Bolero...




‘Loucura passa como gripe.
Você só precisa espirrar e dali a uns dias você verá que alguém foi contagiado. ’

terça-feira, 28 de outubro de 2008

porque me sinto só nesse vazio...



...mesmo estando sol lá fora..

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"Tarefa de casa: cópia da página 231"

...É com grande pesar que descubro os detalhes da vida...

Faz tempo que venho tentando pensar em algo novo, mas quando não se trata de uma repetição de mim mesma me vejo a repetir os outros. É árdua a idéia de não ser, afinal de contas, somos apenas a compilação de tantas outras coisas, pessoas, livros, músicas, filmes, gestos, jeitos e formas que um dia entre um piscar ou dois de olhos e um ‘abrir e fechar de ouvidos’ – como outrora alguém ouviu e por ele ouvi dizer – guardamos e reproduzimos em nossas vidas.
Quem me dera ser aquele primata, tão bruto e abissal, mas que ao menos poderia dizer que conseguiu ser único. Copiando a natureza.

[Há a grande necessidade de que o vácuo saia da minha mente.]

[Já não existem mais palavras.]

Talvez tudo isso, toda a vida, seja apenas um grande abrir e fechar de aspas.
[...]
E será com grande pesar que sentirei a vida passar, como um facho de luz cadente, sem ter aberto entre esse grande espaço um lugar para mim. Um intervalo próprio, onde esteja gravado algo ainda inigualável ou apenas um detalhe inimaginável, escrito do meu punho, para que eu tenha a eterna certeza de que quem fechou as aspas fui eu ,


Por fim, uma vírgula, para não esquecer de que ainda não acabou ...


Metas a serem cumpridas:

1. Construir modelo viável de fonte
2. Costurar uma bolsa estilo Tales of the Abiss
3. Juntar dinheiro
4. Estudar
5. Ler mais
6. Criar algo único
7. ,

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Salvador (?)



ou talvez SP..
...porque as coisas ruins são mais fáceis de copiar.

domingo, 14 de setembro de 2008

...E fez-se o desejo (?)... [atividade de port.]


O desejo foi e sempre será ‘o fruto proibido’, aquilo que nem sempre está ao alcance, mas que desperta em todo e qualquer ser humano as mais diversas sensações, que freqüentemente estão entre os sete pecados capitais, provocando o medo e conseqüentemente aumentando a vontade.
Surgindo do não tão profundo abismo do ser humano, o desejo, advindo da insaciável busca interior por algo, causa guerras, miséria, consumismo ou conhecimento.
Atualmente o desejo é criado a partir da programação que a televisão transmite antes e após o horário político.
Comprar batom, computador ou celular, entre tantos outros produtos, vem se tornado cada vez mais o desejo ardente e pulsante nas pessoas, se anteriormente o homem queria apenas voar, hoje ele não se limita em ir à lua, é necessário um novo celular que funcione além da Terra para falar com a família quando chegar lá.
“Uma mentira contada mil vezes se torna uma verdade”. Não há necessidade, existe apenas o produto tornando-se necessário mesmo sem utilidade, lançado na maioria das vezes pela mídia.
O desejo que produz tantos outros míseros desejos é explicado pelo grande capital, que cria e anuncia tudo aquilo que se torna imprescindível.
O fruto proibido não produz mais conhecimento, e sim retardamento de possíveis grandes mentes.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Desabafo do autor...

Quanto mais a pessoa reclama mais a mente trabalha, pelo menos para criar mais reclamações.


Uma praia. Poderia ser em uma praia ou em qualquer outro lugar.

Quem sabe no deserto com suas grandes dunas ou na praça com seus bancos e pombos.

Mas acabou acontecendo no tal quarto com grande janela.

A qualquer hora coisas acontecem, mas sempre que é noite causa mais temor, mais tristeza e mais saudade da luz do sol que mesmo sem querer sempre afasta a maioria dos medos.

A lua já estava alta no céu acompanhada da escuridão.

Embaixo dos lençóis uma criatura humana escondia seu corpo e mente das suas próprias invenções.

Coisas impossíveis serão realmente improváveis de acontecer?

Enquanto não olhava para a janela sabia perfeitamente que havia ali algo a lhe observar. Algo que balançava as cortinas junto com o vento e repuxava seu pescoço.

Além do limite em que os tais olhos deveriam estar passou um avião com um quase extinto facho de luz a sua frente. Olhos fixos à janela.

Nas noites mais escuras até as coisas simples viram filme de terror.

Quando o medo é grande o estômago vira, a cabeça pesa, um frio corre pelo corpo como se um grande cubo de gelo estivesse sendo formado em torno e não importa o que faça se não tiver que proteger alguém o medo consumirá por completo.

Do lado de fora próximo ao vidro um pequeno buraco se formava no ar.

A janela havia emperrado e da pista um homem alto e coberto por um grande pano vermelho brilhante vinha na direção. Não fechava. Os olhos pareciam agora mais nítidos e brilhantes mesmo não sabendo onde estavam, até porque pareciam ser invisíveis.

Encostou-se ao lado da janela. O medo estava se apossando. E o espaço da fissura no ar para o vidro se tornara ínfimo. Restava agora tomar cuidado, debruçar significaria cair. Cair?


Não sabia como via tudo isso se estava embaixo das cobertas.

Talvez sejam seus próprios olhos, os olhos da alma ou do mundo dos sonhos.


...escrever seria o pior vício se não fosse tão louvável...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ainda faltam estrelas no céu...

...Sei que vou sentir falta disso tudo, mas não agora. Não agora...



Debruçada na escuridão da noite observava o telhado da casa à frente, melhor dizendo, a laje da casa à frente. Até que uma sombra entre tantas sombras me fez ter um sobressalto, havia um grande ladrão abaixado na pilastra lateral ao telhado ou ao menos foi o primeiro pensamento que me ocorreu.
Apaguei a luz.
Como se isso fosse adiantar de alguma coisa já que ele deveria estar ali há um tempo e não surgido em um passe de teletransporte.
Continuei parada e com a luz apagada.
Observava o menor movimento daquele ser. Minha mente formulou trocentas e uma formas de me livrar da situação, mas as pernas não saiam nem do lugar, nenhum dos planos funcionariam assim, apelei para o plano B e segui fielmente, afinal o plano B se resumia a ficar na situação atual.
Pulou entre as pilastras da laje.
“Ah, meu deus (nessas horas é imprescindível chamá-lo) não deixa esse sem vergonha parar aqui!” – se sacudiu e derrubou uma telha que se espatifou com um estrondo.
Assustou-se.
Eu já listava, porém, todos os móveis de valor que poderiam ser levados, mas para minha surpresa o meu suposto ladrão após a queda da telha abriu enormes asas que reluziram com a lua e voou.
Era apenas um dragão, e eu cá com minhas idéias absurdas.
“A que ponto chegamos, meu deus.”


10º Mandamento: Não temei aos seus semelhantes.
...Isso deveria estar no livro mais vendido do mundo ...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

sábado, 9 de agosto de 2008

...seria o fim ou só mais um início...



...A vida termina com direito a um último suspiro...


Em um dia de chuva forte saiu de casa para esquecer o que habitava em sua mente.
Caminhou por um viaduto, sentou em sua extremidade e forçou a memória. Era impossível, mas havia algo que ele lembrava e esquecia, mas tão rápido como um clarão.

Caiu, desequilibrou ou se jogou.

Abriu os braços, sentiu o vento passando pelos seus cabelos e rasgando a sua pele. Lembrou de seus livros, das pessoas. As gotas da chuva pareciam tiros de tão fortes, algo estava errado, não era isso a ser feito, mas não havia como para-lo, já estava no ar e milagres não acontecem todos os dias.

E os planos escorreram com a água da chuva. Um nó na garganta fez Maicou de Jesus ter um lapso de memória, ele deveria ter levado a paz e a harmonia para as pessoas pobres e necessitadas, mas ele se esqueceu disso. Os problemas atmosféricos eram tão grandes que afetaram sua saúde, o Mal de Alzheimer já consumia seu cérebro, e a LER não diminuía por nada no mundo - nem mesmo com os remédios homeopáticos que insistia em usar - mas o gosto por livros ainda era grande e ele devia deixar pelo menos um registro como herói para a humanidade, escreveu com seu sangue em um papel velho de propaganda uma história que fazia seus olhos se encharcarem, não houve mais força, sua mão cessou.

Uma pena quem sabe o Super-Homem, que estava fazendo um bico de gari, ter visto o papel antes das tantas Igrejas do Universo, revistas e jornais e jogado no lixo achando que era mais um absorvente sujo que entupiria o bueiro das ruas novamente.


...e a luz se fez. Ao menos a lâmpada acendeu.


E ele nasceu.
Filho da roça cresceu plantando batata e indo a Igreja do Universo para ganhar as cascas da batata que plantou, por vezes reconhecia o que era lido, mas a fome era grande demais pra ele reparar nisso.
Durante uma campanha política ganhou uma bolsa miséria e foi estudar na cidade.

Algo fora dos planos estava prestes a acontecer.

O conhecimento tirou Maicou Weslei de Jesus do caminho religioso, depois de descobrir o absurdo das igrejas virou ateu.
PhD reconhecido mundialmente Maicou de Jesus tinha a fama e influência que todos queriam para si. Milagres acontecem, ironizava o ateu quando contava a sua trajetória de criança da roça.
Escrevia por hobi, mas de hobi virou profissão. Suas histórias percorriam o mundo e várias pessoas deixaram de ler o antigo livro mais vendido para serem adeptas de seu conhecimento e com isso guiadas pelo caminho da razão.
Uma nova seita se formava, A Seita da Luz. Parecia sina as pessoas se destinarem a seguir alguma coisa.
Mas alguma coisa faltava na vida de Maicou de Jesus, a contradição do seu viver de extravagância e seu nome era tremenda e por diversas vezes uma voz surgia na sua cabeça.

Estava louco, era o que pensava.


...a vida é feita de vitórias, mas sem os problemas as vitórias não chegarão...


O caos havia si formado na Terra e em vez de seguidores prontos a aclamar e obedecer, Jesus viu a luta armada em prol do seu nome.
A sua melhor idéia tinha falhado.
Fanáticos alucinados e preocupados em levar aos outros a ‘paz e harmonia’ esqueciam de pegar um pouco disso pra si e eram esculachados nas portas da vizinhança. Nações se acabavam e no meio daquela cena de miséria e pobreza algo bateu no rosto de Jesus.

Era uma última carta feita de material estranho, um papel meio que molhado de chuva ou de lágrimas e riscado a caneta vermelha ou a sangue, vinha queimado e amassado com uma caligrafia mal feita e erros ortográficos descomunais. Jesus sentiu saudade da época em que assinava a confirmação de pedidos e jogava-os pela janela, ao sabor do vento.
Leu a carta. Talvez a mistura do que estava escrito e a cena que acabara de assistir tenham se misturado em seu ser e um nó na garganta acompanhado de olhos que refletiam a dor da alma o fizeram fechar a janela. Era necessário trabalhar, não queria destruir aquele mundo, ele acreditava que de alguma forma tudo se tornaria melhor.

Com mais algumas folhas escreveu uma nova história, uma história que superaria todas as outras porquê essa aconteceria de verdade. Ele iria voltar e seria o herói que a humanidade precisava. O deus vivo, mesmo que morto, que as pessoas nutriam para sobreviver no mundo que ele ajudou a complicar e destruir.
Dessa vez não havia erro, ele seria a salvação mesmo que para isso fosse preciso nascer de novo.


...O teu futuro é duvidoso...”

Talvez ele esteja morto ou tenha passado o seu trono para mim. Por um breve instante enquanto lia a carta esse pensamento sobrevoou a mente de Jesus, assinou o pedido remendado e ortograficamente mal feito, de doação do vale gás e bolsa miséria para pobres que era a última recomendação na oração que alguém em algum lugar do mundo fez. Parou para pensar mais sobre o seu futuro.
O Todo Poderoso não voltaria mais, isso era quase certo - talvez pela sua ausência, a falta de algo que fizesse as pessoas se submeterem e limitarem suas ações tomando um rumo de “paz e harmonia” mantendo a rotina e deixando de observar como as coisas caem ou os pássaros voam, tivesse feito o mundo ser o que estava sendo.
Depois de muitos anos no oficio, por não haver o Chefe, Jesus se auto-promoveu e agora se titulara O Todo Poderoso, O Retorno do que não foi.

...Adoro um amor inventado...”

Destruir todo o planeta e reconstruir novamente não seria uma boa idéia, mesmo se baseando nos dados coletados de países que fizeram isso e de alguma forma deu certo, ele receou desequilibrar o planeta ao extremo.
Animais novos que levassem a “paz e harmonia” seria a maravilha dos deuses, mas as guerras aconteceriam para a posse dos tais.
Ah, como Jesus pensou naquele dia. Não reparava até mesmo nas caixas de papel que chegavam por todos os lados sem deixar espaço, que já não tinha, para andar.
O seu livro de quando era vivo foi sua salvação. Riu - afinal ele havia sido sua própria salvação.
Pulou as montanhas de caixas e foi reproduzir em várias quantidades o livro de histórias de sua autoria, sabia que algum momento seria reconhecido e aquilo lhe deixava radiante.
Voltou para assinar alguns papéis e jogar junto o livro que seria o mais vendido de todos os tempos.
Não leu o que assinou.
Pedidos para abertura de um negócio que desse dinheiro e fosse simples e confortável foram assinados e arremessados pela janela com um livrinho grampeado.
Lutas foram iniciadas com a ajuda do mais vendido nas bancas.
Jesus não tinha noção das proporções que aquilo havia tomado.
Quando finalmente assinou a última carta recebida no dia, ligou o expirador’ de flocos brancos e foi avaliar o seu trabalho.

quinta-feira, 31 de julho de 2008


...Os pensamentos ganham forma, mas na fôrma se deformam...


Jesus havia nascido em um pequeno vilarejo, no dia 21 de dezembro, mas por erro do cartório foi registrado quatro dias depois constando então em sua certidão como dia 25.
Eram tempos difíceis, morava com os pais que viviam em crise contínua por suspeita de falsa paternidade, mas continuava sendo uma boa criança. Passava seus dias contando histórias para os vizinhos que andavam desempregados e ficavam pelas redondezas lavrando o terreno para conseguir alimento ao menos para a família.
Ao acaso, não se sabe ao certo e nem ele mesmo lembrava mais, se perdeu durante uma saída com os pais e após esse dia algo em Jesus havia mudado.

Ele agora ouvia vozes.

Diziam que estava louco, e que não tinha mais solução para o seu caso, mas não era isso o que ele pensava.
Achava agora que era a solução dos problemas de seu povo e que seguindo a voz poderia salvar sua família e os outros da miséria.
Seria ele o messias, repetia a voz que a todo instante insistia em contratá-lo.
Por várias noites sonhava acordado com milagres e a sua dominação de paz no mundo. Surgia em sua mente a visão das pessoas cantando em seu louvor e saldando-o em todos os lugares por onde passasse, andando sobre o mar e doando pão e peixes para os pobres. Não queria esquecer o que deveria fazer assim que aceitasse o contrato e escrevia durante a noite todas as possíveis tarefas a serem realizadas escondendo o caderno sob as ruínas para que não aumentasse mais as más falas dos conhecidos.
Anos se passaram, Jesus cresceu e já adulto não ouvia com tanta freqüência, custava então acreditar na voz, no sonho de criança. Mas enquanto lia seu caderno velho, a chuva e o uivo do vento pararam momentaneamente e ele ouviu vindo da nuca a mesma frase de antes como um vapor quente, mas agora firme e confiante que arrepiou todo seu corpo que de nervoso ficou molhado de suor, tremia de frio. Aceitou.
Um impulso enorme o fez sair de casa. Pelo caminho nublado e umido foi confundido com um bandido e crucificado.

Mas o contrato havia sido selado, ele seria o messias, o braço direito de Deus.

...E quem provar que é mentira ganha um doce...



...Pé em Deus e fé na taba...


Havia uma mesinha, uma cadeira giratória, um pouco gasta e quase sem assento, uma janela que dava para uma paisagem branca e azul com alguns flocos espaçados e vários armários com pastas atoladas de inúmeros papéis que a todo instante apareciam dentro das caixas empilhadas.
Havia um homem sentado na cadeira com uma barba um pouco grande, tanto quanto seu cabelo, de aparência jovem e um pouco nervosa e pálida, quem sabe por tanto tempo sem ir passear e tomar um sol, curvado sobre a mesa assinava alguns dos vários papéis que estavam por ali, quando acabava jogava pela janela e o papel flutuava ao sabor do vento,talvez, até o seu destino. Uma placa situada entre a caneta-tinteiro e o carimbo segurava seu nome em letras de imprensa, Jesus de Nazaré.

Já fazia alguns anos que Jesus estava ocupado naquele emprego que parecia - e realmente deveria ser - sem fim. Alguns anos antes tinha sido contratado por alguém que não revelara seu nome, apenas se titulara Deus, e isso parecia bastar. Deus, porém nunca havia aparecido e não dava mais notícias de sua existência, nem mesmo um sinal miraculoso e homeopático para as crises de ler de Jesus, ou como depois de tantos anos de trabalho sem receber salário Ele entendia o porquê dos inúmeros pedidos que assinara de humanos injuriados querendo aumento e pedindo a morte do patrão.
Uma lástima. Enquanto lia mais um pedido de ajuda e relato de miséria, pensava na sua e em como foi parar naquela situação.

quarta-feira, 23 de julho de 2008


... Acho que a gente é que é feliz... Deixa de lado essa tristeza...



Enquanto se preparava pra levantar continuava de olhos fechados, já sabia o caminho para o banheiro. Calçou a sandália já lascada e pequena de tantos anos de uso e foi embalado pelo sono ainda tranqüilo que o dominava.
Lavando o rosto abriu os olhos.
Não reconheceu mais a imagem do espelho.
Não se sentia dentro de um corpo.
Não sentia estar realmente naquele local, apenas havia a sensação de que a água continuava escorrendo pelo rosto, mas todos os movimentos eram pré-programados e não precisava pensar. Os pensamentos não estavam ali.
Não precisava mais pensar.
Mas, pensar não precisava.
Não pensar, mas precisava.


Se deparou com a ausência dos pensamentos. Para onde eles haviam ido?
- -.
Não houve resposta, não havia nada ali para responder.


Nunca sentiu tanto frio interior quanto naquele momento, afinal apenas as emoções e o instinto havia restado. A procura desenfreada por algo que o preenchesse fez com que virasse um animal.
O ser humano só é chamado de racional por ser o único tido como pensante, mas ele não lembrava como fazer isso. Seus últimos anos eram apenas momentos pré-programados. Esqueceu. Desaprendeu (será que se aprende?).


Acordou.


“Enquanto se preparava pra levantar continuava de olhos fechados, já sabia o caminho para o banheiro. Calçou a sandália já lascada e pequena de tantos anos de uso e foi embalado pelo sono ainda tranqüilo que o dominava.
Lavando o rosto abriu os olhos.”


Pensar mais. Precisava.

segunda-feira, 21 de julho de 2008




-Olá! Como vai?


-Eu vou indo, pro espaço. E você, Tudo bem?




Olhando pro vento.
Não é porque não enxergamos que não ‘vemos’.
O vento está em todo o lugar em qualquer posição, então não importa pra onde olhamos estamos enxergando o vento... Vendo-o ou não. Para vê-lo é preciso enxergar com um corpo sem olhos ou com olhos bem treinados.


É como se sentir um peixe no mar. Se ele olhar para qualquer lado enxergará ou não a água ao seu redor.
O mar é extenso. Talvez por rodar e rodar e se encontrar em uma totalidade só, os peixes achem que ele é infinito... O mar é o mesmo no mesmo lugar.


Se subisse à superfície será que o peixe reconheceria o mar?


Olhando pro vento me sobe uma nostalgia e uma vontade de observar o universo da fronteira...
Me intrigaria talvez se a fronteira fosse aqui. No mesmo lugar.



..Queria poder viajar sentada na minha bolinha em novas direções e assim ver a beleza do universo observado da extremidade de seu infinito...

domingo, 13 de julho de 2008



...tudo ficou vazio de repente... repentinamente...






Primeira visão.


Ela se abaixava atrás da pedra, recarregava o rifle e o arco, esgueirava-se para uma boa localização e atirava. Uma flecha acertou precisa em um cavaleiro alado que caiu, enquanto ela voltava a se proteger das flechas que agora desciam aglomeradas sorriu de satisfação por ter acertado ao menos um.



Segunda visão.



Ela se abaixava atrás da pedra, recarregava o rifle e o arco, esgueirava-se para uma boa localização e atirava. Uma flecha acertou precisa em um cavaleiro alado que caiu, conseguiu desviar de algumas, mas não havia sido rápida o suficiente e seu braço foi cravado por flechas, segurava a dor e agora chorava, não havia mais braço.



Terceira visão.



Ela se abaixava atrás da pedra, recarregava o rifle e o arco, esgueirava-se para uma boa localização e atirava. Uma flecha acertou precisa em um cavaleiro alado que caiu. Ela tombou para o lado e se debatia no chão, uma flecha em sentido contrário havia sido certeira em seu coração junto com o aglomerado que chegava. Não houve tempo suficiente para ela voltar à posição inicial, não teve nem mesmo a alegria de ver o cavaleiro cair. Se debatia por ter mais flechas cravadas em seu corpo.


A terceira visão foi seu momento final. As outras duas sumiram com o vento.


Na minha frente o pequeno corpo agora se mantinha imóvel. Não tornaria a voar novamente nas asas de uma borboleta.


Mas no meio do sangue e da confusão de balas e flechas que atravessavam o meu corpo permeável e invisível, senti o gosto do pólen na boca, ouvi o zumbido do vento e o grande silêncio que saia da montanha e a leve poeira embaçando meus olhos que agora viam o infinito, mas não sabiam seu nome.



...Por causa do vento o pano continuava a balançar e me deixava ver um pedaço do que ia além...



...pensamentos me perseguem e uivam nos meus ouvidos...




Era um campo de batalha.



Pessoas armadas das mais variadas formas e bichos se desfazendo e surgindo do nada apareciam em todo o local.



Fiquei apenas sentada olhando o andamento da situação.


Um uivo ou talvez um grunhido se fez presente, todos correram para suas posições. Fui em direção aonde havia um arco, ela estava ali. Me abaixei ao seu lado e apenas ouvia sua respiração, cada vez mais forte e seu suor frio escorrendo pela testa.
Outra vez o barulho. Agora todos se mantinham em posição de ataque, vários seres surgiram entre as pedras, levantei um pouco para ver o que viria e para minha não tão grande surpresa homens iguais ao que estavam no pomar apareciam por entre as nuvens, atrás deles outros voavam encima de alguns aviões que mais pareciam de papel, armaduras vermelhas vinham pela terra. Nunca havia visto algo como aquilo, talvez pudesse comparar com um mar, um mar vermelho talvez numa maré de março.



Levantaram as armas. Apontaram os rifles. Direcionaram os bichos voadores com suas caras aterrorizantes e suas caldas de pavão plenamente abertas formando um ângulo com o vento que fazia com que o vôo fosse mais suave e preciso.



Ela calibrou sua arma, mas qualquer um poderia ver que não teria nem mesmo comparação um rifle 028 e uma pistola D 686 que pelo visto era o mais comum no outro lado da batalha.
Ouvi o som de tremores, tremores do coração, e tiros foram disparados. Agora as pedras não ajudavam tanto assim na camuflagem, atrapalhavam o deslocamento dos animais. Tirou o arco e flecha junto com grande parte dos que estavam ali e como uma coreografia todos prepararam e dispararam ao mesmo tempo. Uma chuva de flechas percorria o céu, poucas acertaram os alvos, mas não era o suficiente. Eles estavam chegando perto, o massacre não iria demorar.



Pela terra a maré vermelha se dissolvia e tornava a se juntar a depender do movimento inimigo. Alguns espaços eram abertos algumas vezes entre as armaduras, mas logo fechavam como se fosse tragado por uma grande onda.



Penas voaram pelo céu, tantas que quando se aproximaram era complicado enxergar ao redor.



Ultrapassaram meu corpo sem me ferir, mas não ao dela.
Enquanto tentava atirar mais algumas flechas em defesa e se defender atrás da pedra, tive três visões.



...eu não sabia o que fazer...a sombra na parede não parava de me observar, e sozinha parecia acompanhada...


Sai do meio do alambrado de xorifunculas e fiquei encostada em um canto. A menina vasculhava por entre os galhos que em alguns momentos me lembravam armários, colocou um arco e flecha nas costas, um rifle 028 na cintura, no bolso algo parecido com uma caixa de lenços, mas com algumas flechas especiais dentro, talvez feitas com as penas e unhas catadas anteriormente e uma faixa cinza na testa.
Andei por entre os vãos e peguei uma faquinha como segurança colocando-a no bolso, azar o meu quando a faca caiu transpassando o meu corpo, mas ela não ouviu o barulho.
Depois dessa virada de rumo com uma calça da cor do vestido e armada, pulou da árvore e do chão surgiu um animal que parecia feito de barro e lama com alguns galhos secos grudados com algo que preferi não identificar, até porque poderia ser como um ninho de passarinho e isso não seria tão bom assim.
O bicho por incrível que pareça corria rápido e me segurava firme naquilo que esperava ser não identificável. O vento passava ligeiro pelo meu rosto, uma sensação brusca, mas de paz e tranqüilidade se apagou da minha mente quando pulamos sobre um abismo e como conseqüência caímos nele.
Como numa montanha russa gritei, mas a voz não saia, a menina se segurava e apertava as armas contra o corpo com medo talvez de que alguma se soltasse do emaranhado. Continuamos caindo e entre as pedras via um grupo de pessoas com as mesmas roupas que a minha acompanhante (ou seria eu talvez a acompanhante?) não esperava por aquilo, mas quanto mais próximo do chão ficávamos mais suave a queda se tornava. E o bicho ia se desmanchando, quando chegamos entre as pedras não havia mais nada dele além de uma gosma entre tantas outras que se destacavam pelo chão como se vários já tivessem feito aquele percurso ou usado aqueles animais, se é que era um animal.

quarta-feira, 9 de julho de 2008


...voando longe...sentada no mesmo lugar...




Colocou umas goiabas no bolso e se pôs a bater nas arvores, encontrando uma que provocou um som diferente. Apalpou até o momento em que algumas folhas começaram a cair deixando uma passagem entre os galhos, tirou do bolso uma corda e transpassou no galho se erguendo sustentada pelos braços até desaparecer na copa da árvore.


Como já estava ali não custaria nada continuar indo atrás.


Tentei subir usando a cordinha, mas por falta de bom físico continuei presa ao chão, dei pulos para ver se alcançava o galho e era como se a cada tentativa a árvore crescesse mais, mas não iria desistir.
Catei algumas laranjas e mentalizei para que virassem uma escada,não funcionou, bananas então surgiram na minha mente e por alguns instantes senti um cheiro de queimado e os cachos de banana apareceram no lugar das laranjas. Por um breve momento suspeitei ter queimado meus miolos, mas empilhei, me equilibrei rapidamente e alcancei o galho - segura sobe segura escorrega segura se joga - me joguei para dentro da copa e bati com a cabeça e o braço num chão de xorofunculas, pedras que estão sempre se locomovendo e variando de formas com cores variadas, mas não sabia se não estava enxergando bem ou aquelas eram realmente feitas de folhas secas.

segunda-feira, 7 de julho de 2008





...A menina verde povoa meus sonhos e rouba meus pesadelos...





Continuei sem saber aonde iríamos, mas de onde estava (também não sabia onde estava) ainda acompanhava a menina que saiu em um pomar de laranjas.
Caminhava sob um sol escaldante e já estava pingando de suor quando paramos sob uma sombra, ou o que aconteceu na verdade, a sombra pairou sobre nós. Não era uma nuvem, depois que soube o que era desejei mais ainda que fosse uma ilusão de óptica, mas parecia que isso não existia ali, com uns pés de galinha, uma asa de águia uma cauda de pavão e uma cabeça que lembrava uma coruja, ainda não sei dizer se era um dragão, nunca tinha visto um antes para me tirar essa dúvida, mas o enorme bicho voador foi descendo aos poucos e pelo visto não era amigável ou então o homem que estava montando não seria muito simpático, pois a menina foi tão rápida que apenas vi um vulto seu entre as árvores ou talvez como iria constatar mais a frente, dentro da árvore. Por instinto tentei me esconder também mesmo sem saber se alguém estava me vendo ou não, até porque nesses momentos nunca pensamos nisso e eu ainda não sabia como havia deixado o salão de pensamentos e ido parar ali entre os pés de laranja do lado de um... um...bem...animal voador e seu dono.


Um dono magrela por sinal, vestindo um uniforme azul com um pequeno brasão que tinha como símbolo o animal que estava montado, mas com uma diferença de ser apenas a imagem dos ossos, um escudo que tomava toda a suas costas e uma pistola D686 com alcance de 1 km sem perder velocidade e precisão.


Colheu algumas maçãs, colocou em um grande cesto que ficava perto da cauda de pavão, montou novamente e partiu.
Colheu maçãs. E eu tinha certeza de que eram laranjas.
Enquanto levantava vôo o bicho deixou cair algumas penas e um pedaço da unha que já dava voltas de tão grande, a menina catou e guardou em um dos bolsos, tirou uma goiaba do laranjal e mordeu com ar de satisfeita.

quarta-feira, 2 de julho de 2008


...girando girando girando...girava sentada na bolinha não tão perfeita e observava o universo com seu pisca-pisca ligado...



Do túnel aberto na água saiu um vapor quente como se tivessem acabado de abrir o forno e acertou em cheio o rosto da menina que apertou os olhos e pulou se agarrando nos primeiros degraus. Uma escada tão vertical que mais parecia uma parede, ela colocou um pé e escorregou sem conseguir se segurar em mais nenhum outro e caiu tentando inutilmente se agarrar ao que agora parecia água. À medida que caia a região acima era preenchida de água e agora ela rezava para chegar ao espaço impermeável antes de ser engolida pelo Grande Lago.



Passou por uma coisa gelatinosa, como uma membrana transparente e se chocou contra o chão, um baque surdo ecoou naquele lugar.
Um lugar estranho por sinal, de ar denso e por muitas vezes de um transparente colorido soltando relampejos que iluminavam o local de pura areia seca.



Atolada na areia, pensei que aquele pontinho verde não se mexeria mais. Depois de algum tempo ela se sentou no chão e ficou observando ao seu redor, a cada lampejo de luz algo que ainda não havia observado se revelava. Portas.
Milhares de portas soltas na areia, em pé como se estivessem fincadas no chão, a menina levantou indecisa tentou abrir uma, mas nada acontecia, cavou pelo chão até achar uma pedra e jogou contra a porta que se abriu instantaneamente. Um jato de luz veio do ‘outro lado’ só consegui ver um vulto rápido do vestido atravessar. Não saiu do outro lado, na areia, apenas sumiu junto com o jato de luz, dei graças aos céus. Isso era o que eu esperava.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

..também quero voar... >.<

...e lentamente tudo parecia girar ao meu redor...



Olhando a vista do pico da montanha, sentada embaixo de uma árvore seca e de galhos pontudos, parecia que o pequeno vilarejo situado próximo ao Grande Lago, que lembrava mais uma piscina com seu formato retangular, estava calmo e silencioso e a menina que outrora atravessara a janela prendia os cabelos que desciam pela face turvando a vista.
Uma borboleta do tamanho de uma toalha de banho passou rente aos galhos secos e voava lentamente próximo a grama enquanto descia a montanha, a menina disparou em seu encalço e com um baque que fez a borboleta se bater nos galhos mais próximos se jogou em suas asas.

Nunca havia sido tão gostoso voar nas asas de uma borboleta, tirando o fato do pólen que insistia em cair nos seus olhos e entrar pela boca no menor suspiro.

Quanto mais próxima estava do vilarejo, mais silencioso este se encontrava como se todo o som das pessoas, do vento, dos animais tivessem se esvaecido.
Desceu da borboleta e sacudiu a roupa que agora estava verde bandeira de tanto pólen agregado, caminhou até o Grande Lago e subiu em uma pequena canoa que flutuava perto da margem, e como se estivesse sendo puxada se dirigiu ao centro do lago.
Esticando as mãos para a água a menina retirou um fio quase transparente e que fez a água se afastar e deixar um espaço de onde saia uma longa escada, como um túnel...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

... a vida é feita de pensamentos ...

...Quem dera se eu pulasse a fogueira da hipocrisia...

[...]
Faz tempo que deixei de freqüentar o salão de pensamentos, lugar onde as idéias voam e portas e janelas se abrem pra uma planície onde os mais loucos sobrevoam e pousam.
Lá, onde correndo contra o vento agarramos as idéias mais sem sentido que poderíamos imaginar.
O vento às vezes afasta os pensamentos pra longe e voltamos pra casa com a mente vazia, povoada apenas com as canções.
O que seria do ser humano sem as canções?
A música é a essência da alma e é dela que a gente se alimenta.
[...]

...de pensamentos e histórias soltas eu faço a minha vida...

Talvez o salão de pensamentos seja como aqueles de baile onde as janelas são cobertas por cortinas douradas com bordados azuis e esmeraldas, e cada uma delas desemboque em um lugar diferente.

Quem sabe uma janela não leve a outra que leva a um outro salão.


[...] com um vestido longo de magas curtinhas vi pela porta entrar, deixando em seu rastro um caminho de pérolas transparentes, e correr ao som do farfalhar das folhas na direção de uma janela coberta por uma cortina antiga de porte majestoso.


Entreabriu a janela, segurou o vestido e pulou.


Por causa do vento o pano continuava a balançar e me deixava ver um pedaço do que ia além.


Um caminho, um bosque, som da cachoeira ao longe e uma brisa que anunciava o inicio da noite soturna e misteriosa. Ao longe ainda podia-se ver o vulto do vestido de um verde musgo correndo e desaparecendo entre as árvores [...]


domingo, 8 de junho de 2008


Ping ping pingt plict ping ping ping plict pingt.

E da janela eu via a chuva aos poucos cair lá fora aumentando cada vez mais a freqüência de pingos que deslizavam no ar e se batiam nas folhas antes de alcançar o chão.
Uma criatura, tão pequena quanto as gotas da chuva, flutuava lá fora. Me estiquei na janela para ver melhor, mas ela subia e descia por entre as folhas que balançavam com o vento trocando de direção.
Num dado instante, porém, o vento foi mais forte e ela se desprendeu das folhas voando entre as gotas. Plict ping plict ping, e a menina do tamanho de uma unha envolta em um tecido verde cana que mais parecia musgo, saltava agora nas gotas de chuva enquanto era levada pelo vento.
Quando já se encontra a uns três metros do solo, o vento se tornou mais suave e ela começou a descer como uma folha de papel enquanto tentava se desviar das gotas, uma, porém veio certeira em sua direção e caiu direto na cabeça, após essa vieram mais outras e a criaturinha sem ar morria afogada enquanto flutuava em direção ao chão alagado pela chuva.
Me estirei na janela para tentar aparar-lhe a queda, não adiantou, passou entre meus dedos e se espatifou no chão desacordada afundando na água empoçada.


Fui molhada pela chuva assassina.


É nisso que dá ver seres que não existem.

sábado, 24 de maio de 2008

Dragões de algodão

Quero escrever sobre algo que ainda não sei o que é.



Ainda não se formou em minha mente a imagem daquilo que quero, talvez seja por que não há nada nela agora, está vazia, como um pote tampado.



Costume comum o meu de observar o céu pela manhã e a tarde.



Pela manhã nos primeiros horários, para ver os primogênitos raios de sol e pela tarde no momento onde só resta um pequeno pedaço da grande bola de fogo.



Não sei por que motivo, mas enquanto andava na rua olhei para o céu e já era poente, vi então como se as nuvens estivessem em chamas e todo o céu ardesse com o fogo do sol, algumas nuvens, porém, mais afastadas mantinham uma cor rósea e eram mais finas lembravam então dragões, dragões voavam pelo céu enquanto este ardia em chamas. Quando mais próximo se situavam os dragões das chamas eles também ardiam no fogo e se misturavam a ele. Alguns se chocavam entre si e se fundiam, trocavam de cor e tudo aquilo parecia uma dança, talvez a dança do poente, presságio do que estaria por vir, então assisti o sol sumir aos poucos e os dragões se atropelavam para alcançá-lo. Pensei comigo ‘aquilo deve ser uma imagem do inferno’ como quando vemos o reflexo do espelho, era muito cruel pra ser o reflexo do céu. Mas com o passar do tempo à luz ia se extinguindo e uma nova cor surgia, o céu ficava mais escuro e os dragões se recompunham novamente, talvez sejam fênix ou apenas pedaços de algodão com gliter a cintilar em seus contornos.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Palavrões (Millor Fernandes)

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. "Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma. Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!". E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!". Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala.

Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas.Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade. E...foda-se!"

Árvore genealógica (Luiz Fernando Verissimo)

-Mãe, vou casar!!!

-Jura, meu filho?! Estou tão feliz! Quem é a moça?

-Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Julio.

-Você falou Julio... ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?

-Eu falei Julio. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?

-Nada, não... Só minha visão é que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.

-Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...

-Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso...

-Você vai ter uma nora. Só que uma nora... meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea.

-E quando eu vou conhecer o meu... a minha... o Julio?

-Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.

-Tá! Biscoito... Já gostei dele. Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui?

-Por quê?

-Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.

-Você acha que o papai não vai aceitar?

-Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas, isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metades com pinto...

-Mãe, que besteira... hoje em dia... praticamente todos os meus amigos são gays.

-Só espero que tenha sobrado algum que não seja... pra poder apresentar pra tua irmã.

-A Bel já tá namorando.

-A Bel? Namorando?! Ela não me falou nada... Quem é?

-Uma tal de Veruska.

-Como?

-Veruska...

-Ah, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.

-Mãe!!!

-Tá..., tá..., tudo bem...Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...

-Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.

-Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?

-Quando ele era hétero. A Veruska.

-Que Veruska?

-Namorada da Bel...

-"Peraí". A ex-namorada do teu atual namorado... É a atual namorada da tua irmã...que é minha filha também... que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...

-É isso. Pois é... a Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.

-De quem?

-Da Bel.

-Logo da Bel?! Quer dizer, então... que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska?!?...

-Isso.

-Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.

-Em termos...

-A criança vai ter duas mães: você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.

-Por aí...

-Por outro lado, a Bel..., além de mãe, é tia... ou tio... porque é tua irmã.

-Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.

-Só trocar, né? Agora, o óvulo vai ser da Bel. E o ventre, da Veruska.

-Exato.

-Agora, eu entendi! Agora eu realmente entendi...

-Entendeu o quê?

-Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!

-Que swing, mãe?!!...

-É swing, sim! Uma troca de casais... com os óvulos e os espermatozóides, uma hora do útero de uma, outra hora no útero de outra...

-Mas...

-Mas, uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... com incesto no meio.

-A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...

-Sei... E quando elas quiserem ter filhos...

-Nós ajudamos.

-Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...

-Que...?

-Fazer árvore genealógica daqui pra frente... VAI SER UMA MERDA!

*..*..*..*..*..*..*..*..*..*..*..*..*..*..*

Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e
acredite em você.

Gaste mais horas realizando que sonhando,
fazendo que planejando,
vivendo que esperando
Porque, embora quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu.

Luiz Fernando Veríssimo