sábado, 24 de maio de 2008

Dragões de algodão

Quero escrever sobre algo que ainda não sei o que é.



Ainda não se formou em minha mente a imagem daquilo que quero, talvez seja por que não há nada nela agora, está vazia, como um pote tampado.



Costume comum o meu de observar o céu pela manhã e a tarde.



Pela manhã nos primeiros horários, para ver os primogênitos raios de sol e pela tarde no momento onde só resta um pequeno pedaço da grande bola de fogo.



Não sei por que motivo, mas enquanto andava na rua olhei para o céu e já era poente, vi então como se as nuvens estivessem em chamas e todo o céu ardesse com o fogo do sol, algumas nuvens, porém, mais afastadas mantinham uma cor rósea e eram mais finas lembravam então dragões, dragões voavam pelo céu enquanto este ardia em chamas. Quando mais próximo se situavam os dragões das chamas eles também ardiam no fogo e se misturavam a ele. Alguns se chocavam entre si e se fundiam, trocavam de cor e tudo aquilo parecia uma dança, talvez a dança do poente, presságio do que estaria por vir, então assisti o sol sumir aos poucos e os dragões se atropelavam para alcançá-lo. Pensei comigo ‘aquilo deve ser uma imagem do inferno’ como quando vemos o reflexo do espelho, era muito cruel pra ser o reflexo do céu. Mas com o passar do tempo à luz ia se extinguindo e uma nova cor surgia, o céu ficava mais escuro e os dragões se recompunham novamente, talvez sejam fênix ou apenas pedaços de algodão com gliter a cintilar em seus contornos.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Palavrões (Millor Fernandes)

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. "Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma. Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!". E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!". Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala.

Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas.Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade. E...foda-se!"

Árvore genealógica (Luiz Fernando Verissimo)

-Mãe, vou casar!!!

-Jura, meu filho?! Estou tão feliz! Quem é a moça?

-Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Julio.

-Você falou Julio... ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?

-Eu falei Julio. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?

-Nada, não... Só minha visão é que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.

-Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...

-Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso...

-Você vai ter uma nora. Só que uma nora... meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea.

-E quando eu vou conhecer o meu... a minha... o Julio?

-Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.

-Tá! Biscoito... Já gostei dele. Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui?

-Por quê?

-Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.

-Você acha que o papai não vai aceitar?

-Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas, isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metades com pinto...

-Mãe, que besteira... hoje em dia... praticamente todos os meus amigos são gays.

-Só espero que tenha sobrado algum que não seja... pra poder apresentar pra tua irmã.

-A Bel já tá namorando.

-A Bel? Namorando?! Ela não me falou nada... Quem é?

-Uma tal de Veruska.

-Como?

-Veruska...

-Ah, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.

-Mãe!!!

-Tá..., tá..., tudo bem...Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...

-Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.

-Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?

-Quando ele era hétero. A Veruska.

-Que Veruska?

-Namorada da Bel...

-"Peraí". A ex-namorada do teu atual namorado... É a atual namorada da tua irmã...que é minha filha também... que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...

-É isso. Pois é... a Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.

-De quem?

-Da Bel.

-Logo da Bel?! Quer dizer, então... que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska?!?...

-Isso.

-Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.

-Em termos...

-A criança vai ter duas mães: você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.

-Por aí...

-Por outro lado, a Bel..., além de mãe, é tia... ou tio... porque é tua irmã.

-Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.

-Só trocar, né? Agora, o óvulo vai ser da Bel. E o ventre, da Veruska.

-Exato.

-Agora, eu entendi! Agora eu realmente entendi...

-Entendeu o quê?

-Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!

-Que swing, mãe?!!...

-É swing, sim! Uma troca de casais... com os óvulos e os espermatozóides, uma hora do útero de uma, outra hora no útero de outra...

-Mas...

-Mas, uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... com incesto no meio.

-A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...

-Sei... E quando elas quiserem ter filhos...

-Nós ajudamos.

-Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...

-Que...?

-Fazer árvore genealógica daqui pra frente... VAI SER UMA MERDA!

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Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e
acredite em você.

Gaste mais horas realizando que sonhando,
fazendo que planejando,
vivendo que esperando
Porque, embora quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu.

Luiz Fernando Veríssimo





quinta-feira, 15 de maio de 2008

Teste de conhecimento para apresentação. (dispensa leitura e comentários)

Chupar bala com papel talvez não seja tão estranho assim quando isso vira apenas uma metáfora para falarmos do uso do preservativo nas relações sexuais.


A camisinha existe não para tirar o desejo ou diminuir qualquer sensação que seja como algumas pessoas podem pensar, mas sim para a proteção de parceiros sexuais ativos não importando a faixa etária ou sexo.


Uma tragédia. Talvez seja assim a forma mais rápida e prática de se reduzir os conceitos errôneos sobre uma das doenças mais populares entre as DST’s, a AIDS, a Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida que não se pega apenas com o ato sexual, mas qualquer contato com o sangue ou secreção de um indivíduo contaminado.


As pessoas que são portadoras da Aids convivem com forte discriminação, pois para quem está ao seu redor normalmente acredita que usando o mesmo copo ou o mesmo talher concorrerá a grandes chances de adquirir também a doença. O que não passa de um engano, já que a doença não se transmite assim e nesse momento o portador precisa de um convívio normal com as outras pessoas, pelo menos enquanto puder manter relações de trabalho (dependendo dos riscos apresentados do mesmo) basta apenas que tenha alguns cuidados para não por em risco a sua saúde e a de quem estiver ao seu redor.


O grande índice de violência entre casais aumenta potencialmente as chances de se adquirir a Aids, uma pesquisa feita em duas grandes favelas do Rio de Janeiro, mostrou a dificuldade em se negociar com o parceiro quando este não possui conhecimento suficiente sobre os riscos e se opõe violentamente ao uso de preservativos.


Jovens que compartilham seringas e fazem uso de drogas se expõem à contaminação a um grau mais elevado ainda, pois nesse caso pode-se contaminar pelas seringas e pelo ato sexual com muitos parceiros, já que confirmaram o relacionamento com múltiplos parceiros o que demonstra a maior vulnerabilidade desta população a contrair DST.


Não só drogas ilegais, mas uma que está presente em nosso dia a dia e por isso não mais percebesse seu valor destrutivo, o álcool é um grande aliado de aventuras amorosas, onde a camisinha fica em último lugar. O uso de bebidas alcoólicas potencializa o número de pessoas que iniciam sua vida sexual precocemente e sem proteção, também levando aos atos delinqüentes.


Embora grande parte dos adolescentes confirmem já terem conversado sobre sexo com alguém, normalmente essa pessoa não foi um adulto e muito menos os pais. Provavelmente por ainda tratarmos sexo como tabu, mesmo com tanta vulgarização e libertinagem, temos então um grande problema, pois a iniciação precoce e sem encaminhamento acarreta relações sem preservativo, o que pode desencadear não só a Aids, mas uma DST ou até mesmo a gravidez não desejada.


Existem vários métodos para evitar doenças e gravidez, mas, sendo redundante e reforçando o que disse anteriormente, a camisinha é o único método que garante a prevenção total.


O uso não é exclusivo do homem, para isso existe também a camisinha feminina, um pouco menos divulgada, mas que também se encontra a disposição gratuitamente em postos de saúde locais juntamente com indicações e orientações.


O uso da camisinha pela mulher ajuda bastante, pois em determinadas ocasiões à negociação com o parceiro é um caminho pouco viável, a depender pelo grau de ignorância em relação ao assunto.


Embora grande parte dos adolescentes que responderam a pesquisa afirmaram possuir algum conhecimento sobre DST e preservativos, algumas pessoas ainda afirmavam não acreditar na gravidade do problema, sendo apenas exagero do governo e de campanhas políticas, o que mostra claramente a relutância no uso da “salvadora de todos os problemas”, que não é a Mãe Telminha de Iansã, prometendo o seu amor de volta em 24h.


A exposição dessas pessoas a violência, tanto familiar quanto comunitária, faz comum o fato de várias já terem realizado sexo forçadamente, feito/sofrido alguma tentativa de estupro ou até mesmo concretizado o estupro sejam atos banais. Ora, numa sociedade onde trocam o corpo por dinheiro e drogas não é de se estranhar o alto número de pessoas portadoras de Aids, já que nessas praticas ninguém se preocupa com o uso ou não do preservativo na relação.


Portanto, existe grande relação entre violência nas relações afetivas e a dificuldade de prevenção de DST/Aids. Para que as medidas de prevenção aos comportamentos sexuais de risco entre jovens sejam eficazes, sugere-se campanhas contra a violência domestica e nas relações afetivas.

domingo, 11 de maio de 2008

Amor-perfeito

Dia de comemoração e feriado são os dias mais esperados do ano e os que existem em maior quantidade, já que para cada trinta dias existe pelo menos um dia de santo, aniversário ou feriado nacional, com fundamento ou sem nenhum já que o que as pessoas querem é o dia de descanso.


Todo mundo agora ‘pode’ e deve ‘desobedecer’ de acordo com as propagandas anunciadas na televisão e em todos os pontos de ônibus possíveis. Celular, casa, carro, roupas e um secador novo parece ser tudo aquilo que as mães querem nesse dia criado especialmente para os comerciantes.



Entretanto, existe algo mais que as mães também querem e ninguém está lembrando de oferecer, não que as mães sejam mesquinhas ou mercenárias, até porque o que elas querem não é comprado e muito menos feito com as máquinas, acredito que todas as mães queiram o amor que existe por ela em seus filhos.



Não tem importância se você obedeceu e não comprou aquele fogão de trinta e nove bocas ou aquela chapinha que aquece até 1000ºC para ela passar nos cabelos e ir dormir por não poder mais sair para não se molhar, você é o presente mor, afinal, se não existisse ela não teria o tão querido Dia das Mães e não seria gratificada por esse presente tão especial que todas dizem serem os filhos.



Lembrando um pouco de alguns anos atrás me veio à memória uma música que reduz aquilo que os comerciantes não querem dizer, mas que seria a essência da verdade...



“Andei por todos os jardins procurando uma flor pra te ofertar. Em lugar nenhum eu encontrei a flor perfeita pra te dar, ninguém sabia onde estava esta flor mimosa perfeição, ela se chama flor mamãe e só nasce dentro do coração. Enfeita nossos sonhos, perfuma nossas ilusões, flor divina que suponho faz milagres em orações.
Neste dia de carinho quero senti-la no peito, flor divina de minha’lma, flor mamãe, amor-perfeito.”



Não existe nada que um abraço não resolva.

terça-feira, 6 de maio de 2008

...Nem tudo se completa como imaginamos...



Um teto branco não importa de onde seja, contanto que eu possa olhá-lo fixamente, sempre me incita a pensar as coisas mais mirabolantes, sem pé e muito menos cabeça.

Foi em um dia que já estava próximo de seu fim em que esse pensamento surgiu na minha mente...



Uma criança sempre é o bem maior de uma família, mas para aquelas pessoas aquele ser era a existência e o motivo de suas vidas. Nasceu com uma doença incurável e a partir daquele dia seus pais viviam para financiar as pesquisas de um tratamento que ainda não seria efetivo. Com o decorrer dos anos a criança cresce, é óbvio, e o desenvolvimento de sua doença não regride, ao contrário, pois seu prazo de vida diminui mais rápido a cada dia que passa e talvez não suporte nem mais um ano.



No parque com os amigos ela corre ao encontro destes pra contar à novidade que enche seus olhos de lágrimas, viverá mais seis meses se continuar usando os remédios, aquilo ainda não havia sido revelado e na verdade nem seria dito já que ninguém tinha conhecimento da sua doença, apenas ela sabia que agora poderia viver um ano e seis meses.



Nunca brincar havia sido tão divertido e em um dos momentos em que se encontra a sós no balanço com seu amigo de anos, uma dor aguda em seu coração faz o corpo tremer e ela diz em um tom preocupado:

“ se algum dia eu estiver perto de morrer me conta a piada do porquinho?”


A outra criança escuta aquilo e ri zombeteiro daquele pedido tão imbecil e inesperado.


No fim da tarde quando já estavam prestes a retornar para casa as crianças avistam um menino de rua, magro e com olhos grandes e profundos, sentado perto de um caixote, vindo em sua direção um homem correndo a passos largos com uma arma na mão. Diante daquela situação todos que estavam pelo parque saem correndo, mas o menino de rua continua sentado, ele não tem forças pra levantar, quando o homem dispara seus tiros sobre ele a criança que possui a doença corre ao seu encontro e o envolve em seus curtos bracinhos de modo que somente ela é atiginda gravemente pelas balas.


O homem continua a correr alucinado.


A criança cai no chão coberta de sangue.


Não há mais ninguém que possa ajudar, pois todos correram ao som dos tiros.


Volta em pleno desespero o tal amigo de outrora e se prostra ao lado a chorar. Em seu amplo terror vê a outra criança agonizante com as dores e começa aos berros a falar algo que no inicio era apenas um emaranhado de palavras.


- o por... o porco...ele fugiu do circo e muito triste foi encontrado por uma mulher na rua


As palavras saiam sem direção nem sentido, mas ele sabia que deveria fazer aquilo,


- a mulher ...o Roberto Carlos... a toalha e o porquinho... o porquinho....


Nada mais fazia sentido, o menino salvo estava parado no mesmo lugar e posição, mas agora com a cabeça da criança em seu colo e também chorava, o amigo já não sabia mais como continuar a piada e muito menos tinha forças pra isso agora gritava para que ela não morresse, para que esperasse ele chamar alguém e em algum dia quando estivesse melhor ele contaria novamente para que ela risse como em todas as vezes que ele fazia aquilo.


O rosto da menina já estava pálido e sem vida, mas ali no meio de toda aquela confusão ela ouvia a velha piada e esboçava um sorriso tímido, como fazemos toda vez que alguém conta algo que já sabemos, mas que nunca nos cansamos de rir.


E no fim de sua vida ela diz pra criança que a tem no colo para que tome conta de sua família , assim no seu coração sabia que mesmo indo embora eles teriam outra filha, a outra criança pra quem ela deu a sua vida, os seus exatos 547 dias.

domingo, 4 de maio de 2008

Observar os outros talvez seja uma das melhores maneiras de nos observarmos...


As pessoas sempre estão à espera de alguma coisa.

Sentam pelas praças, nas ruas ou em qualquer lugar e se prostram ali a espera daquilo que nem elas mesmas sabem o que é.

Se arrumam, mechem nos cabelos, apertam alguns botões dos seus aparelhos eletrônicos móveis, mudam de posição, olham pra qualquer direção como se aquilo amenizasse a ansiosidade e inquietação que as atormentam a todo instante, pois continuam à espera.

Caminhando entre elas sei que nenhuma nem ao menos percebe a minha presença, fico abismada com aquilo, o que será que tanto esperam?

Estão ali simplesmente a espera de um acontecimento. Algo que as façam sair do lugar, aquilo que mudará o rumo de suas vidas. “Aaai se o teto caísse”, pelo menos haveria assunto para o restante da semana ou também seria a ajuda imediata que todas as pessoas precisam, uma notícia ou acontecimento que funcione como estopim para que façam algo, para que saiam daquele mar de futilidades e de momentos vulgares para viver mesmo que por alguns instantes situações apenas vulgares ou somente fúteis, pois já faz um tempo em que não vivemos sem um desses dois itens.

Oooh céus, ninguém merece viver no meio de tantas futilidades assim. Não há ser que supere, que saia ileso de um meio como este, por isso, todos continuam a esperar. Não sei dizer o que é que esperam talvez por que eu também esteja esperando, afinal, também estou sentada na praça aguardando o acontecimento que nos tirará dessa inércia.


quinta-feira, 1 de maio de 2008

Pra que serve as palavras se não para nos encher a paciência?

Dia sombrio, já era noite na verdade, vento soprando fraco e ao longe um caminho deserto. Ahhh situação periclitante, “isso lá é hora de se estar na rua” penso eu com meus botões (na verdade não há botões na roupa, já se foi o tempo em que eles existiam nas roupas assim, mas esse é o codinome do meu subconsciente). Não houve motivos pra que eu saísse a essa hora de casa, apenas uma vontade louca despertou dentro de mim e sem saber como me controlar sai pra olhar as nuvens da chuva talvez.



Na rua à noite normalmente temos a idéia de que não há nada, não há ninguém, é como se todos estivessem em casa dormindo, mas não é bem assim.



A noite da rua é diferente da noite que acontece dentro de casa, daquela dentro do ônibus, diferente da noite da favela, da noite do carro ou até mesmo da noite do deserto ou de um navio a deriva.



A noite da rua se compara a uma panela vazia jogada no lixão, às vezes monstros aparecem e com seus olhos brilhantes por rápidos momentos circulam em seu meio fazendo um barulho que com a luz do dia não nos pareceria tão estranho. Múmias saem de suas tumbas e na panela fazem o som característico da noite. Quem nunca ouviu o apito noturno? O apito que na minha infantil expectativa era de uma coruja ou de um ser sobrenatural mandando uma mensagem codificada, não passava de uma múmia chamando seus súditos ou no caso os afastando.



Vaga-lumes rodeiam a panela pra que ela não fique na escuridão e pelos caminhos desertos eu retorno pra casa, caminhos de gordura daquela comida que não saiu junto com a chuva e também não foi levada pelo vento, gordura impregnada e que já faz parte da própria panela.



Então quando chego à porta de casa e adentro a nova noite que se revela olho para trás e me deparo com uma fumaça que sai da panela da noite.



A panela do pobre que mora ali perto.






Ps.: pq o título não tm nada a ver com o texto eu não sei explicar ._.'