quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Pensamentos da madrugada

Falamos dos outros aquilo que reconhecemos em nós. 
Se você maldiz o outro é porque somente reconhece suas próprias deficiências. Se você bendiz o outro é porque vê refletida sua melhor face.
Reconhecemos somente aquilo que nos é conhecido.
Se não julgarmos o outro, mas sim o entendermos, compreendendo e auxiliando em seu crescimento pessoal então estamos também progredindo em nossa caminhada.






Sobre o acaso, desenhos e coisas não tão aleatórias

Quatro paredes, uma janela sempre aberta e uma porta cor laranja berrante. Na janela cactos, na porta fitas do Senhor do Bonfim e contra a homofobia, na parede papeis e telas pintadas por mim e um desenho achado no lixo.

A parede de um quarto revela mais sobre a vida e personalidade do que muita biografia escrita por aí.

Duas fotos de criança tiradas em momentos distintos retratam o sorriso forçado para os contratos sociais, os olhos de quem quer brincar ao invés de tirar foto. Duas telas foram feitas em dias tranquilos de curiosidade e tentativa sem muito sucesso de fazer um desenho exemplar. Ambos em azul, verde e amarelo, mas sem ser a bandeira do Brasil. A última tela pintada por mim traz a raiva e a tristeza do fracasso, a luta contra a constante necessidade de vitória sempre e o meu mundo em guerra. Tempos difíceis, mas que valeram cada segundo em uma tela de 15 por 20. Há também uma colagem feita em papel ofício que quase infantilmente apresenta uma xícara navegando no mar tendo ao fundo um por do sol laranja vibrante. A xícara tem uma longa história, se não me engano já contei aqui no blog há uns anos. Se trata de um barco que leva um monstro solitário pela imensidão do mar. A xícara vai e vem ao sabor do vento, mas o monstro nada pode determinar por não ter forças para guiar o barco. Quando ela segue a correnteza e se aproxima de uma praia com habitantes o monstro se assusta e teme ver outras pessoas... Uma longa história.
O desenho do lixo é um dos mais bonitos, triste e feito com uma tinta preta aguada em papel branco.
Na outra parede há desenhos recortados e um painel.
Quem diria que um dia eu veria o significado de papéis colados ao acaso em épocas diferentes e que ainda hoje representam a decoração de minha vida.
O painel mostra o sistema solar, meu amado e desejado conhecimento pela astronomia, física e abstrações sobre o universo. Veio junto com uma revista, não tem o desenho de Plutão, mas a legenda com um resumo dos planetas faz valer a pena.
Uma reprodução de G. Doré de uma fábula de La Fontaine (O pastor e o mar) segue colada logo abaixo. O pastor, as ovelhas e um clarão do céu me fazem pensar nessa busca por Deus...
Outra feita por um autor que não lembro mais mostra o mar azul bonito com suas ondas a colidir em uma pedra. Por fim, um cordel e a foto de uma xilogravura, céu nublado, cenário escuro e uma pessoa a andar com um guarda chuva que lembra uma maçã.


Escancarada estou nas paredes do quarto, livro aberto escrito em idioma desconhecido.



Desenho aleatório...ou não. 

É um ato de coragem seguir o coração.

É um ato de coragem seguir o coração.

“Segue minha filha. Vai!”

Há dias que não escrevo, apenas vivo, leio e penso. Hoje resolvi que faria algo a mais, iria sentir. Terminei algumas páginas do livro e como sempre não tive condições de seguir em frente, a mente chegou ao ponto exato em que precisava parar e se recompor.
Fechei a porta. Desliguei as luzes. Deitei e achei que havia me perdido. Me perdi em pensamentos, dores no corpo e respiração entrecortada. Estratifiquei o corpo e relaxei apenas tentando respirar e me observando. Não conseguia respirar com as duas narinas. Apertei o nariz, inspirei e expirei, depois de muitas tentativas reconheci  que não sei como fazer isso direito. Depois de um tempo funcionou, mas não entendo como posso fazer algo a minha vida inteira e ainda assim não fazer bem. Talvez, por quase nunca prestar atenção...
(...) Senti o coração pulsar e o jorro de sangue vivo que corre em meu corpo, senti o corpo inerte e de olhos fechados via medo em mim. Tive medo de mim, de tomar consciência e ser, medo do desconhecido, das ondas que preenchem o meu corpo e se movem quando paro.
O coração acelerava estando eu parada e com o pensamento sendo observado por mim. Receio do quê? Medo por quê?
Tudo passa, tudo esvai, tudo flui.
Não sei explicar nem muito menos vou me esforçar por fazê-lo, simplesmente senti que não sentia nada. Ao ponto que poderia estar deitada, em pé ou de cabeça para baixo, tanto faz no caos ordenado do universo.
Tive medo e voltei. Seguir o coração é um ato de coragem, é um esforço diário, é lutar contra o oponente mais forte, lutar contra você mesmo e ir. Levar o outro é fácil, seguir a trilha do outro é simples, difícil é trilhar e colocar as pedras no caminho. Construir o caminho. Dar o primeiro passo. Vencer a adrenalina que imobiliza e ordena que fuja. Difícil é desapegar em meio a tantos apelos. Mas nada é tão difícil que não possa ser simples, porque a complexidade mora no raciocínio humano.
O auge da complexidade na verdade é o limite da abstração humana, pois na verdade, em suma, há apenas simplicidade no universo.
(...)
Escrevo para não vomitar, para aguentar o vendaval que abala os meus alicerces vazios construídos em areia movediça, repletos de insegurança e medo daquilo que desconheço, conheço ou reconheço, pilares que afastam o meu coração dos meus sonhos.
Quebrá-los-ei. Afogá-los-ei. Sobreviverei.
Escrevo para tomar consciência dos pensamentos. Me fortificar reconhecendo as fraquezas.
Tudo passa tudo muda. O mistério é viver no presente, ser e estar presente.


O mistério é ser e estar.




Borboleteando...