sexta-feira, 27 de março de 2009

Tic.

Ele está em todo lugar. Controlador e possessivo, cura e liberta, consome e aflige.

Ele rege o mundo e nos permite contar o quanto vivemos.


Quando entramos em desespero olhamos para ele e pedimos para que nos espere.

Ele nunca espera.


É cruel com as crianças e mulheres, mata os homens no seu badalar.


Sempre acorrentados em seus braços basta nos distanciarmos dele para ficarmos perdidos.


Uma ode ao novo deus, ao dignifico Deus Relógio, funciona com sol ou pilha e controla todas as pessoas nesse masoquismo sem fim.


Tic


Tac


Tic


Tac


Tic


Tac.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Post Restrito aos Componentes da Lactobacilos Produções

Roteiro que talvez nunca venha a ser rodado, incompleto, mas feito numa panela de idéias.


De ‘Um cálice de poesia’ acabei bolando o ‘Ilusão de óptica’ ou ‘De pensamentos faço a minha vida’, acho que o último cairia melhor ou nenhum desses.

A narração de um curta onde uma garota se envolve com um rapaz no ônibus e se depara com uma gravidez inesperada.

Inicia na praia com uma cena de despetala das flores e para cada mudança é intercalado uma imagem da praia com uma pétala de encontro à areia. (transição)

Não há falas, apenas gestos, a narração e as músicas de fundo.

Segue abaixo a divisão de cenas.


Prólogo’

Cenas de um ponto de ônibus que tenha visão para a praia, relação de créditos no início.

Após o fim dos créditos a filmagem se direciona para a areia. Pés próximos a água do mar e pétalas caindo. Música: A gandaia das ondas/ Pedra e areia - Luiza Possi.

Narração 00: As flores que me deixou alegram o jardim que nasceu dentro de mim.


Cena 01

Cena no ônibus. Começa filmando a janela e depois vira para os próprios rostos.

Narração 01: Nos conhecemos no ônibus, eu estava voltando do trabalho. Nesse horário o coletivo que faz o transporte sempre vem com poucos lugares para sentar. Lembro que fazia um tempo frio, por isso as janelas se mantinham fechadas. Nunca o tinha visto naquele ônibus, e por não ter mais assentos ficou em pé na direção do banco em que eu estava.

Aconteceu pelo reflexo do vidro.

Eu olhava vez ou outra para seu reflexo, até que nossos olhares refletidos se cruzaram. Um sorriso. Fiz uma careta. Ele me deu língua. Fiquei vesga e ampliei a cara de retardada. Ele riu um riso bonito, e eu sorri amarelo, sem graça.

Não nos falamos mais no decorrer da viagem.

No dia seguinte, eu estava no mesmo lugar e ele sentou ao meu lado. Sorrimos. Falamos qualquer coisa sobre o dia e dali a uns instantes eu me deparei calada olhando nos seus olhos cor de mel, me deixaram com vontade de mergulhar, mergulhar naquele olhar que mais parecia um girassol antes de murchar. Quando voltei dos pensamentos encontrei sua mão sobre a minha.


*transição*

Cena 02

A filmagem se concentra na porta do quarto entreaberta’e no chão. Uma camisa cai e a porta se fecha. Música: Folhetim - Luiza Possi

Narração 02: Passou-se algum tempo a partir desse dia e de um reflexo ele foi se tornando cada vez mais real, mais concreto, mais palpável.

Quando fechamos a porta do quarto lá dentro nossas almas se encontraram.

Depois desse dia me sentia afogar cada vez mais naquele pote de mel, um tempo em que as horas escorriam como óleo pelos dedos.

Amores de ilusão que eu guardei numa caixinha de fósforo.
Quando saco, não sei o que fazer na hora de acender e vejo um ponto de luz emerso na escuridão dos meus pensamentos tempestivos.


*transição*

Cena 03:

A cena se concentra na cozinha e na hora da agressão a música aumenta.

Música: Grávida – Marina Lima.

Narração 03: Era uma terça e minha mãe lavava os pratos na pia, sentei no sofá e fiquei esperando uma oportunidade, não sabia como fazer aquilo. Chamei, ela não olhou, chamei novamente e ela respondeu de lá, na terceira tentativa contei.

Ela parecia não acreditar, foi chegando perto e eu reafirmei. Me jogou no chão, apanhei a maior surra de toda minha vida.

Normalmente não acredito em Deus, mas naquele dia rezei para que ele não sentisse a dor. Não queria que sofresse a rejeição.


*transição*

Cena 04:

O câmera dentro do ônibus filma a entrada da garota, ela senta e no decorrer da cena a filmagem se foca nas flores que ficam ao seu lado e na mão quando ela pegar o bilhete.

Música:

Narração 04: Não era dia de trabalho, mas fui para a rua e naquele mesmo horário subi no ônibus. Desci no fim de linha. Ele não apareceu.

Por dois dias não dormi, continuei pegando o mesmo ônibus e não sabia o que fazer da vida, no terceiro um menino subiu pela frente com flores na mão, um copo de leite e duas margaridas.

Eu fingia tirar um cochilo apoiando a cabeça na janela. Ele passou por mim e deixou as flores no banco vazio ao meu lado. Havia um bilhete que dizia: ‘Toda flor tem seu cálice, sua taça, seu copo de leite’.

Ele desceu deixando as flores ao meu lado.


*transição*

Cena 05:

A cena retorna a praia e a garota se mantêm caminhando pela areia. Música:

Narração 05: Antes eu me sentia como uma rocha, hoje sou um casulo esperando a revolução.

Não creio que o reflexo no ônibus me deixou um fardo, também não sei por que ele sumiu sem mesmo saber o que estava acontecendo, talvez tudo não tenha passado de ilusão, mas fico feliz em sentir o novo coração que vive em mim.


Cena 06: Final

A filmagem irá se limitar aos pés que se distanciam e aos restos de flores deixados na areia.

Música: A lista - Oswaldo Montenegro

Narração 06: As coisas boas aparecem sem serem anunciadas.

quinta-feira, 19 de março de 2009




Algumas coisas se tornam especiais com o passar do tempo. Outras, obsoletas.



O barulho do computador funcionando incomoda quando a noite vai longe e não há nada mais alto que ele.
Fecho os olhos e escuto o morcego que passa.
Quanto mais perto da janela do quarto com mais medo ele me deixa, só que não posso sair dali.
Fincada no beiral vejo o dia passar, tão lento, quente e angustiante. Cada raio de sol me aproxima mais da morte, mas quando ele vai embora meu perfume exala. Flores que murcham se alimentam do luar.

Sempre vejo a Lua atravessando o céu, talvez seja hora de dormir, mas não consigo enquanto ela brilha para mim – para mim? .
Ao relento lanço beijos no ar para que a alcancem, é verdade que eles se desfazem antes de chegar, mas quem sabe um dia, assim espero e acredito, algum deles toque levemente sua face de pedra.

Se apaixonar pela Lua... Não é tão difícil amar um bloco de pedra que paira no ar.


A gravidade é a única coisa que nos separa.


sábado, 14 de março de 2009

Perdidos e achados

Saí cedo, andei por aí, acabei me perdendo.





Um céu sem nuvens e o calor de fritar ovos no asfalto preenchiam o cenário.

O ponto de ônibus estava quase vazio, sentei ao lado de um idoso enquanto esperava o transporte. Pensava em qualquer coisa, acho que é comum pensar na vida em situações como engarrafamento, espera de ônibus, banho, dor de barriga, na verdade penso que a dor de barriga alimenta mais a fé porque é quando oramos bastante. Engraçado que lembro de ter analisado o tal idoso ao meu lado, seu aspecto, a sujeira, não acreditava encontrar aquilo que achei [...] .



Inesperadamente ele se virou para mim e disse “Qual a cor que Deus mais gosta?” na hora tive o impacto, ninguém normalmente pergunta essas coisas para nós, ainda mais quando se está fritando em um ponto de ônibus, tinha em mente a cor branca, mas quando ia responder olhei para o céu – um céu sem nuvens, azul, muito azul; eu estava sofrendo com o calor, mas tenho que admitir que fazia um dia bonito – respondi “azul”, meio óbvio isso, ele riu para mim, riu mesmo, de gargalhar e olhou para o céu também. Fiquei pensando se devia ter dito branco ou verde quem sabe, ele disse apenas “talvez seja azul, a gente sempre fala qualquer coisa pra começar uma conversa” e riu para o homem que estava ao seu lado.

Não demorou muito passou seu ônibus, depois da sua partida o homem falou “meio doido ele, né?!” ah, mas que raiva dele, eu tinha achado tão poético, tão belo aquele comentário simples e impactante para ele me dizer isso, balancei a cabeça pra qualquer lado.



Sempre me espanto com as coisas simples da vida...



Ele havia morrido e era seu aniversário. Ninguém achava que ela iria, enquanto oravam ela chegou, as crianças, seus colegas, gritaram freneticamente e cantaram um parabéns entre abraços e sorrisos. Um nó na minha garganta me fez cantar um parabéns abafado para não chorar.



A melhor alegria é a das crianças.




Quando me encontrei já era hora de voltar.

terça-feira, 10 de março de 2009

Na mão direita tem uma roseira...










Enquanto houver ilusão haverá amor.

domingo, 1 de março de 2009

Um cálice de poesia.

Eu já cansei de pensar que ninguém vai me entender.

Já faz um tempo que venho tentando me encontrar nesse planeta; sonhando sozinha, andando por aí.



Me encanto com a sensibilidade das pessoas que vejo.Um mundo que se resumia a pedras e vento seco agora se enche de luz, remanescente da alegria de encontrar por algum acaso a poesia que transborda dessa gente.



Um gesto,


Um olhar,


Um beijo - suave e progressista,


Um mundo,


Um caminho,


Um cálice de poesia, simplicidade e beleza.


Uma beleza grotesca e rústica daqueles que se descobrem aos poucos, imaginando, quem sabe, de qual mundo vieram ou porque lhes foram dados olhos que encontram magia e perplexidade em todas as direções.




Tudo possui um encanto, é apenas uma questão de simplicidade do espírito.





'Andando na rua encontrei um cálice de poesia que transbordava à medida que via os sonhos caminhando incessantemente em busca de si mesmo.








Toda flor tem seu cálice, sua taça, seu copo de leite.