sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Eu nem sonhava te amar desse jeito...

7 meses de 60h semanais. 
7 meses desde que entrei nesse casulo de transformações chamado residência. 
7 meses. E já não sou a mesma desde o primeiro dia. 



Se houvesse tempo para pensar saberíamos que estamos andando na contramão e que a vida não é pra ser feita apenas de tensão e dívidas. Se sobrasse disposição para inovar e criar... as páginas deixariam de estar em branco. Se houvesse mais tempo para dormir talvez brotassem mais sonhos nos nossos dias. Mas vamos seguindo, vivendo como nossos pais, tentando lembrar que um dia prometemos não repetir os mesmos erros, esquecendo dos problemas sociais e vivendo na famosa bola de vidro.

Vamos andando que "mais um dia menos um dia", mas o de hoje já acabou. Tempo ocioso também é vida e é por isso que as crianças são tão hábeis em aprender, pequenos gênios que surgem nas areias do ócio. Mas não há tempo para pensar outra vez, se o fim do mês chegar... não haverá hora se não for a extra.

Na beira do leito, à noite, o vento sussurra no ouvido do outro que a solidão arrebata o coração, que os dias passaram rápido e que o abraço poderia ter sido mais demorado. A comida de casa de repente parece a melhor comida do mundo. E o vizinho chato? Continua chato, mas talvez não fosse tão ruim assim. O vento fofoca horrores nos ouvidos alheios fazendo o coração apertar. A porta bate incansável e anuncia que a noite ainda será longa.

E no fim só queremos ser amados. Amados por qualquer um, a qualquer hora.
Ser normal para ser aceito.
Seguir as regras para ser incluído.
Ter sucesso para ser "alguém".
Estética para ser admirado.
Nesse mundo alimentamos mentiras para sermos amados.
Estimulamos o ego para sobreviver se não formos capazes de amar e ser amados.


É só o amor que conhece o que é verdade. 



 Abracadabra!, eu disse, mas as vendas não caíram.
E meus sentidos ainda permanecem na hipnose que um dia entrei.
Mundo de ilusões, me deixe em paz.



sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Últimos dias

Nó na garganta e no coração. Um nó  que expande e sobe pela cabeça, desce pelo pescoço, paralisa braços e pernas. Silencia a voz. Esse é o nó dos últimos acontecimentos.
O grito silenciado da revolta fica travado e as lágrimas de decepção não descem mais. Eles conseguiram e agora sou um robô, um boneco de carne e sangue, uma máquina de comer, trabalhar e dormir, um animal irracional que opera máquinas. Criança domada em rédeas e gibão que deixou de ser gente e não se percebe mais como comunidade, natureza, ser. Vê as atrocidades e recolhe para si suas reflexões em um misto de inferno e realidade.

Acorda o seu eu verdadeiro. Acorda. Acorda. Tira as vendas que o mundo anda sofrido e não adianta fechar os olhos ou tampar os ouvidos, os gritos do inferno já vêm acompanhados de lucros.

Quantos sofrem sem saber a razão?

Quantos esquecem para quê vivem?

Quantos rejeitam sonhos e vendem seus dias para ganhar o pão?

Quantos se perdem em preces para aguentar os dias? Vivem em prisões sem saber. Morrem sem saber.

Quantos acham que educação e saúde são um mero favor?

Quantos se sujeitam ao mercado espiritual para alcançar um futuro melhor já que o hoje é de misérias?

E entre tantos, quantos deles sou eu e você?


No limiar da normalidade e loucura eu vivo, equilíbrio, caio. Que a loucura seja contagiosa e retire a senda que nos torna impotentes. Sou um monstro preso em uma gaiola feita com palitos.

Que a loucura de ser consciente me retire dessa impotência sem fundamentos.