terça-feira, 29 de maio de 2012

Barulho

Fazendo tanto barulho
Você vai acordar meu orgulho
Que tanto dorme por nós
 Tudo relevo e tolero
Mas já falei?
Eu não quero que me levante a voz?
Apesar das divergências
Com todas as disavenças
 A gente não separou
 Porque meus olhos fechei
 E sem rancor, perdoei
Os seus crimes de amor
Pode mentir à vontade
Eu sei que fidelidade
Não é seu forte afinal
E mesmo que eu quisesse
Ainda que eu pudesse
Não ia fazer igual 
Porque só beijo quem amo
Só abraço quem gosto
Só me dou por paixão
 Eu só sei amar direito
 Nasci com esse defeito
 No coração

Maria Bethânia




quinta-feira, 24 de maio de 2012

Como já dizia Caetano...




E alí estava ele, um oceano tão infinito quanto os olhos nos deixam imaginar, com suas ondas revoltas batendo uma contra as outras, cada vez mais forte e oscilando com o vento. Sua espuma pairava pela superfície e a cor escura não permitia que se visse o quão profundo era. Mas eu sou louca, e ensandecida na minha loucura mergulhei de cabeça, senti a água gelada e revolta ao meu redor invadindo o meu corpo, congelando minhas entranhas. E comecei a afundar, as ondas cobriam minha cabeça e no turbilhão das águas lembrei que nunca d’antes estive no mar, quem dera saberia nadar naquele infinito desconhecido.
E afundei mais até compreender que o único devaneio que me guiava era a loucura.
Mergulhei de cabeça e me entreguei ao mar. Se eu tivesse mais alma pra dar eu daria.



Dias de chuva



Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mário Quintana



terça-feira, 22 de maio de 2012

Vi por aí...

"...O tempo passou e o leite cozeu. Mas o tempo não passa, o tempo é estático, o tempo é, nós é que estamos passando pelo tempo, nós nos degastamos no tempo, deu pra compreender?"
Lembranças do Sr. Abel
(Memória e sociedade: lembranças de velho, Ecléa Bosi)

domingo, 13 de maio de 2012

The Beatles

Ever.


The white album


Eu deveria estar estudando ou arrumando meus horários para ir ao oftalmologista ainda essa semana, mas estava assistindo a “I am Sam” e refletindo sobre minha vida.

Até onde podemos ir por amor?
Bem, essa pergunta não vem ao caso, estava pensando no motivo de eu gostar tanto de filmes com estilo drama. Às vezes acabo com o rosto inchado de tanto chorar ou pensativa ao extremo... mas não deixo de gostar do estilo, muito pelo contrário.
Para mim um bom drama precisa ir além dos outros estilos; fazer rir não é simples, empolgar com uma louca corrida por um objetivo também não é, mas para mim fazer lágrimas brotarem vai além. É necessário ter feito rir e empolgar mesmo com o objetivo mais singelo, é preciso carisma e emoção medidos com precisão. Se faz de grande ajuda uma boa trilha sonora e fotografia, daquelas que tocam sem nem mesmo percebermos e que nos invadem sinuosamente, apenas nos damos conta, se é que nos damos conta da presença quase invisível da música quando ela nos é de certa forma conhecida, porque se não a música e a cena se entrelaçam e não mais se separam, fazendo todo sentido estarem juntas.
Um bom drama não precisa arrancar baldes de lágrimas, mas nos passa emoção como se parte de nós houvesse partido junto com a história e compartilhasse uma cumplicidade com os personagens.


Um último comentário.
Me vejo temerosa das coisas que desejo ou mesmo do que desejei quando criança. Temo conhecer mais do futuro do que deveria, ou quem sabe, moldar o futuro exatamente da forma como imaginei que seria.
“Deitada na cama, aos seis ou sete anos, imaginei uma sala... a disposição das cadeiras no ambiente, o quadro, tenho uma vaga lembrança do que acontecia na minha imaginação. Aos vinte anos sinto ter vivido a cena. Quando era criança sentava na escada durante a noite e imaginava falar outras línguas, conversava longas horas no tal idioma que eu inventara. De certa forma fugi dessa ‘loucura’, mas me encontrei novamente com ela de uma forma diferente, dando forma a loucura vivida. Aos vinte e um sinto me tornar aquilo que imaginei. Mas agora me pergunto, o que foi que imaginei mesmo?”
Tenho receio de seguir passos traçados inconscientemente por mim.
Que Deus nos proteja!




Férias =)

Tirei férias dos meus problemas.

Acordei pela madrugada e lembrei do Monólogo de Orfeu (Vinícius de Moraes)... Quem 'guenta'?!

Mulher mais adorada!
Agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.
E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.
Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.
Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!
Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo.