domingo, 31 de julho de 2011

Arritmia

Não dá. Não consigo me concentrar em nada, nem mesmo no papel à minha frente. Tanta coisa pra se fazer e esse tumtumtum atrapalhando minha vidinha.

[...]

Desejar é algo tão particular, depende do seu gosto, do que acontece na sua vida, daquilo que você espera pro futuro. Desejar...



A casa estava vazia e na varanda, entre as plantas e o muro do vizinho, pôs-se de pé com as mãos na cintura. Olhava para frente e para o céu, era noite, mas havia o clarão dos relâmpagos.

Descendo lentamente pelo seu corpo nu as gotas da chuva se espalhavam e escorriam como que propositalmente de forma lenta e gelada.

Um raio cruzou o céu e o vento assobiava enquanto o rombo do trovão chegava ao longe.

O cabelo já molhado colava na face, e alí, parada, sentiu a vibração do trovão transpassar seu corpo como uma batida mais rápida do coração.



Desejar me lembra muito uma tarde de sol e a vontade de tomar uma limonada com pedras de gelo dentro. [...]

Sobre sentimentos...

Só sobre mesmo, nem ao lado nem por baixo.

sábado, 30 de julho de 2011

É, né...
















''Três vezes salve a esperança''

Cinefuturo

Yo, también


Um filme tão lindo que só de lembrar me enche o coração
de alegria.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Um gole de ar, por favor!


Passei cinco dias sem sentir cheiro algum, cinco dias comendo sem gosto, sem perfumes ou fedores, cinco longos dias sem olfato. Ontem, inacreditavelmente, voltei a sentir alguma coisa, senti um fedor de gasolina e pastel frito, mas quando menos esperava o ar foi embora, uma bola invisível apareceu na minha garganta e bloqueou a passagem. Longos segundos sem ar. Mantenho a calma, continuo conversando e com algum esforço sinto o tórax relaxar e o alivio. A cada quinze minutos a respiração falha.

Hoje acordei sentindo cheiro de pão queimado. Levantei da cama e a bola invisível já estava transpassando minha garganta. Deitei.

Quando sai de casa senti o cheiro da rua molhada pela chuva, me lembrou fralda molhada de xixi, os carros deixando o ar impregnado com o cheiro de fuligem, os corredores nunca dantes me pareceram tão tenebrosos com sua poeira e cheiro de tinta. Passei o dia inteiro sem ar, posso contar a quantidade de vezes em que respirei.

Tomei um café, meu coração disparou e o ar fugiu junto com a fumaça que subia do copo.

Me apoiei no braço da cadeira, nas grades, no poste, no chão. Sentei no meio fio. Cabeça entre as mãos. Não havia o que pensar, mas se fosse pra morrer sem ar que pelo menos fosse na praia, porque é doce morrer no mar.



segunda-feira, 18 de julho de 2011

Escorrendo pelos dedos









Eu já não precisava fazer mais nada, então apenas fechei as janelas e esperei o ar se extinguir. Senti a garganta seca e os olhos lacrimejarem.
A chuva caia forte lá fora e eu esperava... Vi as gotas da chuva baterem e lentamente escorrerem pelo vidro.
Fiquei sem ar, inspirei com mais força, joguei o corpo para trás e esperei.
Joguei uma perna em cima do banco e sem querer o rádio ligou.
Abri a janela.
Não esperei mais.




Quando li esse poema pensei que fosse um espelho de palavras... e eu a refletir


VAIDADE

Sonho que sou a Poetisa eleita,

Aquela que diz tudo e tudo sabe,

Que tem a inspiração pura e perfeita,

Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade

Para encher todo o mundo! E que deleita

Mesmo aqueles que morrem de saudade!

Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo…

Aquela de saber vasto e profundo,

Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,

E quando mais no alto ando voando,

Acordo do meu sonho… E não sou nada! …

(Florbela Espanca)


Se estiver de bobeira aproveite para passar no Baú da Princesa.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Regra de três

Eu tou que tou
"Eu tô que tô"









domingo, 3 de julho de 2011

Postando pra não esquecer (sem final ou continuação)

Os olhos cansados da leitura árdua, intensa como um castigo e que durara uma madrugada e um dia, reclamaram intensamente que os óculos fossem repostos ao rosto e durante as últimas páginas algumas palavras saiam e voltam de foco numa mente latejante.

À noite quando finalmente viu o último ponto seguido de uma folha em branco teve a certeza de que a tarefa havia sido cumprida. Todos os problemas haviam ido embora durante o tempo em que percorrera a mente da pessoa que escrevera naquelas inúmeras páginas que apoiava cautelosamente entre as mãos. Tudo o que havia acontecido nos últimos dias simplesmente havia condensado e virado vapor sumindo pelos ares, sabia entretanto, que era momentâneo, mas tempo suficiente para tirar seus pesares e viver a realidade de outro alguém transfigurado em letras, papel e tinta.

Antes que o sino da igreja terminasse suas badaladas soltou o bloco de folhas na cadeira e aparou os cotovelos no beiral da janela, esticou o braço e com os dedos alisou uma camada gelatinosa e transparente que distendeu ao seu toque retornando logo que retirou a ponta do dedo envolvendo todo o lugar como uma grande e resistente bolha de sabão. Dalí via e ouvia o que se passava lá fora, mas não podia sair, não sabia como se desvencilhar do que envolvia aquele lugar e as pessoas lá embaixo pareciam não escutar seu chamado.

Um rosto momentaneamente desenhou-se no ar, encostou o nariz na tal gelatina circundante e olhou fixamente para os outros olhos que pendiam torpes por trás dos óculos. Incrédulo levou as mãos ao encontro daquele rosto que ao perceber sua tentativa sumiu assim como apareceu.

Não era a primeira vez que isso acontecia, pensou que poderia ser o seu reflexo e por não ter um espelho tateou o rosto, sabia que em vão, os óculos não apareciam no que poderia ser ele mesmo.

Apoiou-se na cadeira e fez sua série de exercícios se esforçando para lembrar quem era e onde estava.

Com o resto do que talvez tenha sido uma caneta cravava na parede mais um dia desde que acordara. Além do rosto que aparecia duas ou três vezes na semana nada mais entrava em contato com ele, se é que podemos considerar aquilo como uma tentativa de contato, nem mesmo sabia como estava sobrevivendo enquadrado numa 'bolha de sabão'.

Retornou aos papéis, folheou páginas a fio, mas nada lhe vinha a mente. Sua aparência havia mudado muito, sua barba já estava grande e seu cabelo embolado em um cacheado intenso.


(...)

sábado, 2 de julho de 2011

Em tempo de maré cheia

Tem dias que tudo parece cair sobre nossas cabeças, definitivamente tudo. Não importa realmente se elas estão caindo sobre nós, o que importa é que nesses dias qualquer alfinete nos espeta como um espeto de churrasco atravessando a sola do pé e se um tornado aparece é o fim do mundo, juízo final logo após.

Às vezes não há nada caindo sobre nós, mas não é isso que vemos. Mesmo depois de jogados à água fria das ondas parece que queremos remoer as alfinetadas, as tristezas permanentes.

Minha voz interior é sólida como o barulho de um tambor e quando ressoa dá a mesma sensação de ouvir um avião passando. Essa voz não diz nada por dias, não fala por que não há o que falar... Durante esse tempo eu sou apenas eu, somente eu. Às vezes qualquer coisa acontece, basta apenas que meu espírito se feche e esmoreça como uma planta sem água e então a voz de tambor surge. Não diz nada, mas eu sinto dentro de mim e é ela que amarra a minha garganta em um nó.

Nesses dias eu me afogo em pensamentos entorpecidos que se debatem e formam ondas gigantescas, elas sobem o mais alto possível e depois arrebentam na praia. Eu estou na praia com os pés fincados na areia e as ondas vêm e vão quebrando com a força da natureza, da minha natureza.