terça-feira, 19 de agosto de 2008

sábado, 9 de agosto de 2008

...seria o fim ou só mais um início...



...A vida termina com direito a um último suspiro...


Em um dia de chuva forte saiu de casa para esquecer o que habitava em sua mente.
Caminhou por um viaduto, sentou em sua extremidade e forçou a memória. Era impossível, mas havia algo que ele lembrava e esquecia, mas tão rápido como um clarão.

Caiu, desequilibrou ou se jogou.

Abriu os braços, sentiu o vento passando pelos seus cabelos e rasgando a sua pele. Lembrou de seus livros, das pessoas. As gotas da chuva pareciam tiros de tão fortes, algo estava errado, não era isso a ser feito, mas não havia como para-lo, já estava no ar e milagres não acontecem todos os dias.

E os planos escorreram com a água da chuva. Um nó na garganta fez Maicou de Jesus ter um lapso de memória, ele deveria ter levado a paz e a harmonia para as pessoas pobres e necessitadas, mas ele se esqueceu disso. Os problemas atmosféricos eram tão grandes que afetaram sua saúde, o Mal de Alzheimer já consumia seu cérebro, e a LER não diminuía por nada no mundo - nem mesmo com os remédios homeopáticos que insistia em usar - mas o gosto por livros ainda era grande e ele devia deixar pelo menos um registro como herói para a humanidade, escreveu com seu sangue em um papel velho de propaganda uma história que fazia seus olhos se encharcarem, não houve mais força, sua mão cessou.

Uma pena quem sabe o Super-Homem, que estava fazendo um bico de gari, ter visto o papel antes das tantas Igrejas do Universo, revistas e jornais e jogado no lixo achando que era mais um absorvente sujo que entupiria o bueiro das ruas novamente.


...e a luz se fez. Ao menos a lâmpada acendeu.


E ele nasceu.
Filho da roça cresceu plantando batata e indo a Igreja do Universo para ganhar as cascas da batata que plantou, por vezes reconhecia o que era lido, mas a fome era grande demais pra ele reparar nisso.
Durante uma campanha política ganhou uma bolsa miséria e foi estudar na cidade.

Algo fora dos planos estava prestes a acontecer.

O conhecimento tirou Maicou Weslei de Jesus do caminho religioso, depois de descobrir o absurdo das igrejas virou ateu.
PhD reconhecido mundialmente Maicou de Jesus tinha a fama e influência que todos queriam para si. Milagres acontecem, ironizava o ateu quando contava a sua trajetória de criança da roça.
Escrevia por hobi, mas de hobi virou profissão. Suas histórias percorriam o mundo e várias pessoas deixaram de ler o antigo livro mais vendido para serem adeptas de seu conhecimento e com isso guiadas pelo caminho da razão.
Uma nova seita se formava, A Seita da Luz. Parecia sina as pessoas se destinarem a seguir alguma coisa.
Mas alguma coisa faltava na vida de Maicou de Jesus, a contradição do seu viver de extravagância e seu nome era tremenda e por diversas vezes uma voz surgia na sua cabeça.

Estava louco, era o que pensava.


...a vida é feita de vitórias, mas sem os problemas as vitórias não chegarão...


O caos havia si formado na Terra e em vez de seguidores prontos a aclamar e obedecer, Jesus viu a luta armada em prol do seu nome.
A sua melhor idéia tinha falhado.
Fanáticos alucinados e preocupados em levar aos outros a ‘paz e harmonia’ esqueciam de pegar um pouco disso pra si e eram esculachados nas portas da vizinhança. Nações se acabavam e no meio daquela cena de miséria e pobreza algo bateu no rosto de Jesus.

Era uma última carta feita de material estranho, um papel meio que molhado de chuva ou de lágrimas e riscado a caneta vermelha ou a sangue, vinha queimado e amassado com uma caligrafia mal feita e erros ortográficos descomunais. Jesus sentiu saudade da época em que assinava a confirmação de pedidos e jogava-os pela janela, ao sabor do vento.
Leu a carta. Talvez a mistura do que estava escrito e a cena que acabara de assistir tenham se misturado em seu ser e um nó na garganta acompanhado de olhos que refletiam a dor da alma o fizeram fechar a janela. Era necessário trabalhar, não queria destruir aquele mundo, ele acreditava que de alguma forma tudo se tornaria melhor.

Com mais algumas folhas escreveu uma nova história, uma história que superaria todas as outras porquê essa aconteceria de verdade. Ele iria voltar e seria o herói que a humanidade precisava. O deus vivo, mesmo que morto, que as pessoas nutriam para sobreviver no mundo que ele ajudou a complicar e destruir.
Dessa vez não havia erro, ele seria a salvação mesmo que para isso fosse preciso nascer de novo.


...O teu futuro é duvidoso...”

Talvez ele esteja morto ou tenha passado o seu trono para mim. Por um breve instante enquanto lia a carta esse pensamento sobrevoou a mente de Jesus, assinou o pedido remendado e ortograficamente mal feito, de doação do vale gás e bolsa miséria para pobres que era a última recomendação na oração que alguém em algum lugar do mundo fez. Parou para pensar mais sobre o seu futuro.
O Todo Poderoso não voltaria mais, isso era quase certo - talvez pela sua ausência, a falta de algo que fizesse as pessoas se submeterem e limitarem suas ações tomando um rumo de “paz e harmonia” mantendo a rotina e deixando de observar como as coisas caem ou os pássaros voam, tivesse feito o mundo ser o que estava sendo.
Depois de muitos anos no oficio, por não haver o Chefe, Jesus se auto-promoveu e agora se titulara O Todo Poderoso, O Retorno do que não foi.

...Adoro um amor inventado...”

Destruir todo o planeta e reconstruir novamente não seria uma boa idéia, mesmo se baseando nos dados coletados de países que fizeram isso e de alguma forma deu certo, ele receou desequilibrar o planeta ao extremo.
Animais novos que levassem a “paz e harmonia” seria a maravilha dos deuses, mas as guerras aconteceriam para a posse dos tais.
Ah, como Jesus pensou naquele dia. Não reparava até mesmo nas caixas de papel que chegavam por todos os lados sem deixar espaço, que já não tinha, para andar.
O seu livro de quando era vivo foi sua salvação. Riu - afinal ele havia sido sua própria salvação.
Pulou as montanhas de caixas e foi reproduzir em várias quantidades o livro de histórias de sua autoria, sabia que algum momento seria reconhecido e aquilo lhe deixava radiante.
Voltou para assinar alguns papéis e jogar junto o livro que seria o mais vendido de todos os tempos.
Não leu o que assinou.
Pedidos para abertura de um negócio que desse dinheiro e fosse simples e confortável foram assinados e arremessados pela janela com um livrinho grampeado.
Lutas foram iniciadas com a ajuda do mais vendido nas bancas.
Jesus não tinha noção das proporções que aquilo havia tomado.
Quando finalmente assinou a última carta recebida no dia, ligou o expirador’ de flocos brancos e foi avaliar o seu trabalho.