segunda-feira, 28 de outubro de 2013

"Em cada esquina..."


Sem hora marcada ou telefonema prévio saí pela cidade em busca de você. 
Passei pela rua onde mora, mas quando cheguei perto do portão voltei.
Como criança que é pega no meio da traquinagem.
Como trote de telefone ou ligação a cobrar.
Como moeda sem valor no meio do dinheiro.
Como bilhete de amor em mãos erradas.
Eu tive que fugir.
Eu precisava fugir antes que você descobrisse o que eu estava sentindo.
Como criança fugi...














Mais dos mesmos


E eu tenho tanta coisa pra fazer que acabei me esquecendo de viver.


Já faz tempo que passou das nove, até o jornal terminou, e só agora você conseguiu concluir metade das atividades pendentes. Bravo! Bravíssimo!
Pela janela você viu o céu azul límpido e o sol escaldante, presa em uma sala sem grades e com a chave da porta em um dos bolsos.
Mas agora que tudo, ou melhor, quase tudo já está pronto, você se arruma, passa o perfume novo, veste a camisa nova e sai só. Já é tarde e não há um ser vivente que queria acompanhar essa sua aventura. Tem medo de telefonar e encontrar as pessoas dormindo.
Entra no carro e especialmente hoje faz o caminho mais longo para chegar no restaurante. Vinte minutos é o suficiente para entrar, pedir, comer, pagar e sair. Na volta você puxa conversa com o flanelinha, mas o sinal já abriu e ele nem teve tempo de terminar de limpar o vidro. Fazer o quê? Deixa pra próxima.

Você sente uma vontade inebriante de estacionar e andar pela praia, mas o medo de um assalto é maior e você continua dirigindo, perdida em pensamentos, tentando se encontrar no caminho da vida.




Castanhos


Enquanto ensaboo a roupa na pia tenho a sensação de que meus olhos imaginariamente se viram para o meu interior e dentro de mim encaram seus olhos castanhos, fixos, sem piscar, como se estivessem mortos e ao mesmo tempo brilhando com vivacidade.

Castanhos como amêndoas a me observar.

Castanhos como amêndoas enquanto eu lhes observo.

Castanhos como os olhos de quem sinto falta.

Castanhos.

De tão castanhos saio de mim e me perco no limbo.



quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Vi por aí...



Sou uma mulher madura



que às vezes anda de balanço




Sou uma criança insegura




que às vezes usa salto alto




Sou uma mulher que balança




sou uma criança que atura.






(Martha Medeiros)