terça-feira, 30 de novembro de 2021

Exaustão

 Entrego os pontos. 48h dormindo praticamente sem parar. 7 dias se arrastando a espera da energia que corre pelo corpo ser recarregada. 

Xeque-mate do sistema na minh'alma. 

Abro os janelas, espero o Sol tocar na pele. Quem sabe dá certo dessa vez.

Urgências regem o imediatismo. Tudo urge, tudo é para ontem, menos o sentir, dormir e o descansar. Cabe a nós saber a hora de parar, antes que o corpo pare por si só. 

Sozinha em casa transito entre cama e sofá. Refletindo como chegamos a esse ponto.

Tanta vida lá fora, e eu rezando pedindo paz. Impossível descansar pensando no que deve ser feito ou no atraso de prazos. 

Ânsia de voltar a sentir o pulsar sem dormir.

Ouço o meu corpo e tento honrar suas necessidades. A maior delas é dizer não e impor limites ao mundo das cobranças. Tudo tem um preço, mas nada vale o ânimo que move a vida.



quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Café com pão

 Sentada na sala com o computador no colo escuto os barulhos da noite. Água da fonte, avião passando e o bip da máquina avisando que o pão está pronto. 

Café com pão. Café com pão. 

O cheiro da massa fresca invade a casa, entra pelas narinas, percorre o corpo como incenso. 

Café com pão. Café com pão. 

Sentada eu espero o tempo do pão crescer, assar e dourar. 

Olhando para o vazio perdida no cheiro que brota da massa de farinha com água. 

"Café com pão. Café com pão. 

Se vem de fora ela devora, ela devora."




Anestesia

 Por alguns instantes, na mesa cirúrgica da vida, o efeito da anestesia acaba. 

Há então um surto de realidade por poucos segundos.

Lembro que há 1 ano e 7 meses e 4 dias nos despediamos de vocês. Por poucos segundos lembro que não nos veremos mais. 

Lembro que não prestei atenção suficiente nas histórias para gravar e poder contar depois. 

Lembro que eu dormia cansada de ouvir as mesmas coisas. 

A saudade bateu arrebatadora sem a anestesia. 

A anestesia passou, mas foram rápidos em aplicar uma nova dose. 

Uma boa dose de novos afazeres para o humano-máquina que não pode parar. 


Na mesa cirúrgica da vida eu levo minhas saudades para operar.  

sábado, 18 de setembro de 2021

Palavras na mesa

 Verto no papel um vaso cheio de palavras. 

Elas escorrem pela boca do vaso como líquido, e gotejam uma a uma no copo A4 vazio. 

Quanto mais o papel encharca, mais o vaso enche. 

De repente, vários copos estão cheios, coloco na bandeja e sirvo as visitas imaginárias - como uma brincadeira de criança.

Sirvo palavras no copo e nos pratinhos de post-it imprimo ideias, motivação e sonhos. 

Ninguém mais se serve, então eu mesma bebo e como no meu festim. Guardo o que sobra na parede e aos poucos, um por um, sirvo a mim mesma. 

O vaso transborda e Refrigera minha alma. 

O ano que não terminou

 Hoje eu descobri que em 2020 não postei no blog. 

Nenhum texto verteu o ano mais desorientado da minha vida. 

Nenhuma rima registrou as mudanças que passei.

Um ano como uma folha em branco, onde as palavras se acovardam a achar espaço. 

2020 não teve registros, mas ele separou, misturou, triturou, bagunçou e não arrumou tudo o que podia e não podia. 

Ele sambou, bebeu e vomitou atrás do carro. Caiu no chão e ficou lá largado esperando a tarde do dia seguinte chegar. 

2020 andou, mas também correu. Dias longos e semanas que passavam depressa. 

Lágrimas que ardiam o rosto, como pimenta de baiana. 

2020 bateu a porta com força e fez perder o sono. Deixou marcas, silêncios profundos no barulho do dia.

2020 quebrou os pratos, os copos e levou os talheres de prata. Depois foi embora, mas ameaçou voltar. 

Como um prato de sopa quente, queimou a língua de muita gente. 


Ô Deus, se acabar a dor também acaba a vida? 


Je suis ici

Ruídos

 A boca seca

Os lábios áridos 

O mar em ondas

O olhar vazio transbordando lágrimas

A garganta queimando 

A cabeça zonza

O rosto molhado

A maré cheia 

A língua morna repousa no silêncio 

Os pensamentos vêm e vão 

A escassez do mundo mesclada com a abundância da vida

E o vazio - o vazio que só o ser humano conhece - na imensidão do mar. 


Deixe-me tocar o meu tambor pra você

Não tenho nada a sua altura para te oferecer

Apenas o tambor tocado no meu coração