segunda-feira, 24 de junho de 2013

Só, somente só



Gosto de ir andando porque dá tempo de pensar na vida.
Gosto de estar só para observar ao meu redor e conversar com pessoas que também conhecem e desfrutam o prazer do vagar solitário.
Gosto de ir sem muita espera, de não perguntar, apenas ir.







Toda vez que saio só, somente só, tenho uma sensação de leveza tamanha que me faz sentir parte da rua.
Pertencimento... é estranho, mas faz parte de mim.
Não sei o que me motiva sentir isso, só sei que é assim.





O Desconhecido

Era domingo, acho que oito ou oito e meia da manhã, havia acordado cedo para conseguir um ingresso por um real em um teatro da cidade. Como de costume fui sozinha e me mantive assim até chegar na fila.
Antes de completar quinze minutos parada reparei no desconhecido à minha frente... engraçado como fixei seu rosto na memória. Perguntei alguma coisa e nada mais, só que depois desse dia sempre o encontro nas ruas, na fila, na manifestação, no show underground, na lanchonete, à noite, pela manhã ou madrugada. 
Não nos apresentamos, mas passamos a nos cumprimentar com um aceno, como que para registrar a presença.
Não sei seu nome e provavelmente ele também não sabe o meu, pois ouvi outro dia ele comentar como "A Desconhecida"... Não tenho interesse em saber mais do que eu já sei sobre O Desconhecido, acho curioso essa relação de reconhecimento facial. 


É dito e certo, há desconhecidos que nós encontramos com mais frequência do que nossos próprios amigos. 

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Obs.: Já conheci outros Desconhecidos, mas como se fizesse parte do ritual, após saber o nome eu já não posso mais garantir que irei encontrar aquele rosto novamente. Talvez seja esse o mistério...



São João 2013

De repente, não mais que de repente...

Uma onda de manifestos surgiu pelo Brasil como o fogo surge quando alguém joga um pito de cigarro em brasa no mato seco. Sentimento de patriotismo exacerbado, como se uma paixão avassaladora invadisse o coração dos jovens, idosos, adultos e crianças. Paixão tão devastadora como amor à primeira vista, parece que nascemos um para o outro sem nem ao menos nos conhecermos, sem saber de onde você veio e para onde quero ir a paixão nos guia.
Sem foco, bandeira ou líderes a onda se espalhou como paixão violenta, e como foi violenta! Com direito a bombas e tiros, pedras e vinagre, caminhadas, facebook e engarrafamentos a paixão nos levou pelo braço traiçoeiramente para trás das grades da prisão física e mental, mas vale tudo por amor.
 'Psicodelicamente' fomos às ruas exigir o que nos é de direito, e sofremos como todo apaixonado sofre. Queremos a cabeça de quem fode com a amada e estupra-lhe os recursos, nos perdemos numa loucura desenfreada e quem irá nos acordar? Quem colocará o chão abaixo de nossos pés? Não sei... Só sei que enquanto a paixão não se definir em amor ou ódio, objetivos e convicções o movimento será como uma onda no mar...






Como já dizia Rita Lee... 
"Baby Baby

Não adianta chamar

Quando alguém está perdido

Procurando se encontrar
Baby Baby
Não vale a pena esperar
Oh! Não!
Tire isso da cabeça

Ponha o resto no lugar"



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Esses dias fui ao Pelourinho e como parte do trajeto está bloqueado devido à Copa das Confederações resolvi fazer o caminho andando. Por mera coincidência do destino no dia estava ocorrendo uma manifestação truculenta no Iguatemi e ao mesmo tempo o jogo do Brasil. Eram gritos de alegria e emoção que exalavam do estádio, enquanto a alguns quilômetros dali a polícia descia o cacete nos manifestantes. Durante o percusso passei por moradores de rua, cracolândias e pelos inúmeros grupos de policiais organizados estrategicamente pelo bairro. Tive o sentimento de estar numa guerra civil pelo porte da guarda armada. Mas e aí?! Eu me pergunto até onde vão os braços do movimento... O que muda para os miseráveis?
Quando grito que polícia é pra ladrão, pra estudante não, de alguma forma sutil proponho que a violência deve ser mantida, mas dai a César o que é de César! Pra classe média violência não... Para a malandragem da rua tudo. De que máquina reprodutora do sistema vieram os malandros da rua?
... E na minha caminhada, quando cheguei no meio da ladeira, o Brasil fez o segundo gol da partida e eu fiquei sem saber quem ganharia no grito, os manifestante ou os torcedores... Quem ganharia o quê nesse investimento de tempo e vida?.

No fundo, que nem precisa ser tão fundo assim, nossas ações não passam de reflexos mal elaborados dos anseios, preconceitos e angústias. Se o movimento é feito (aparentemente) por uma classe média emergente vou rezar para que não esqueçam as raízes e as mudanças de base. 

Mas vamos em frente que depois do primeiro passado é que começa a caminhada!



Sim, eu sou apaixonada pelo platônico e  a favor dos manifestos.