Passei cinco dias sem sentir cheiro algum, cinco dias comendo sem gosto, sem perfumes ou fedores, cinco longos dias sem olfato. Ontem, inacreditavelmente, voltei a sentir alguma coisa, senti um fedor de gasolina e pastel frito, mas quando menos esperava o ar foi embora, uma bola invisível apareceu na minha garganta e bloqueou a passagem. Longos segundos sem ar. Mantenho a calma, continuo conversando e com algum esforço sinto o tórax relaxar e o alivio. A cada quinze minutos a respiração falha.
Hoje acordei sentindo cheiro de pão queimado. Levantei da cama e a bola invisível já estava transpassando minha garganta. Deitei.
Quando sai de casa senti o cheiro da rua molhada pela chuva, me lembrou fralda molhada de xixi, os carros deixando o ar impregnado com o cheiro de fuligem, os corredores nunca dantes me pareceram tão tenebrosos com sua poeira e cheiro de tinta. Passei o dia inteiro sem ar, posso contar a quantidade de vezes em que respirei.
Tomei um café, meu coração disparou e o ar fugiu junto com a fumaça que subia do copo.
Me apoiei no braço da cadeira, nas grades, no poste, no chão. Sentei no meio fio. Cabeça entre as mãos. Não havia o que pensar, mas se fosse pra morrer sem ar que pelo menos fosse na praia, porque é doce morrer no mar.
Um comentário:
Mas não morreu e melhorou, pelo o que se percebe. Mal estar terrível, esse relatado.
Espero que agora você possa cantarolar aquela do Pink Floyd: "Breathe / breathe in the air"...
:)
Abraço
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