sexta-feira, 29 de julho de 2011

Um gole de ar, por favor!


Passei cinco dias sem sentir cheiro algum, cinco dias comendo sem gosto, sem perfumes ou fedores, cinco longos dias sem olfato. Ontem, inacreditavelmente, voltei a sentir alguma coisa, senti um fedor de gasolina e pastel frito, mas quando menos esperava o ar foi embora, uma bola invisível apareceu na minha garganta e bloqueou a passagem. Longos segundos sem ar. Mantenho a calma, continuo conversando e com algum esforço sinto o tórax relaxar e o alivio. A cada quinze minutos a respiração falha.

Hoje acordei sentindo cheiro de pão queimado. Levantei da cama e a bola invisível já estava transpassando minha garganta. Deitei.

Quando sai de casa senti o cheiro da rua molhada pela chuva, me lembrou fralda molhada de xixi, os carros deixando o ar impregnado com o cheiro de fuligem, os corredores nunca dantes me pareceram tão tenebrosos com sua poeira e cheiro de tinta. Passei o dia inteiro sem ar, posso contar a quantidade de vezes em que respirei.

Tomei um café, meu coração disparou e o ar fugiu junto com a fumaça que subia do copo.

Me apoiei no braço da cadeira, nas grades, no poste, no chão. Sentei no meio fio. Cabeça entre as mãos. Não havia o que pensar, mas se fosse pra morrer sem ar que pelo menos fosse na praia, porque é doce morrer no mar.



Um comentário:

Jaime Guimarães disse...

Mas não morreu e melhorou, pelo o que se percebe. Mal estar terrível, esse relatado.

Espero que agora você possa cantarolar aquela do Pink Floyd: "Breathe / breathe in the air"...

:)

Abraço