sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Quando o inesperado te espera. (suposta Parte II)

II


As mulheres recolhiam as crianças para a construção, aos poucos o lugar foi se tornando mais estranho ao meu olhar, eu continuava sentada no mesmo lugar tentando entender o que poderia ter acontecido, até que um sussurro passou pelo meu ouvido, vozes misturadas e sem sentido falavam por entre a escuridão. Um vento forte sacudiu o matagal, apagou algumas tochas e entre gritos de mulheres mandando as crianças para o barracão e gritos das próprias crianças de terror eu continuava a ouvir as vozes sussurrando, o medo que já não era pouco se alastrou e também corri para entrar. Lá dentro, como já esperava, não havia separações, era apenas um grande barracão de madeira, tanto o teto quanto as paredes eram feitos de uma madeira crua e escuro avermelhada, como abertura só enxerguei uma porta e duas janelas, havia muito espaço lá dentro sendo que várias crianças choravam pelos cantos.

De repente, no meio da confusão uma mulher apareceu na porta avisando que quatro crianças não estavam por perto e que o paradeiro mais certo de encontrá-las era no rio das Calanhas. Ninguém se propôs a ir na busca, não sei porque, mas me ofereci para acompanhá-la.

Dentro do barracão a claridade era mínima, produzida por pequenas tochas que se dispunham ao centro, mas do lado de fora era o completo breu.

Na mão ela levava a nossa única fonte de luz. Nos distanciamos da construção e passamos a andar pelo matagal, ela parecia conhecer o caminho, mas vez ou outra tropeçávamos nas pedras e raízes. Depois de um tempo, que para mim passou como anos, saímos em um lugar aberto, uma grama que passava pouco do calcanhar e já se ouvia o barulho da água lenta entre pedras. Um frio subiu pelas minhas pernas. Ela não falava nada.

O matagal a pouco deixado para trás se sacudiu com uma ventania, nossa única fonte de luz se apagou e voltei a ouvir como se muitas pessoas falando em outra língua sussurrassem algo.

Quando me dei conta estava andando sendo guiada pelos puxões de braço que ela me dava.

Por algum tempo fiquei estática, ela ia à frente quando percebeu o meu estado, voltou e me puxou guiando meus passos.

As quatro crianças estavam dentro do rio. Uma água clara, absurdamente transparente, deixava ver seus pés sob, e o musgo das pedras. Continuava escuro, era como se alguns filamentos de água iluminassem o rio.

Estavam paralisadas.

Vendo-a de costa, de encontro ao vento, senti como se já a tivesse visto. Do outro lado da margem vinha alguém, as crianças se mantinham no mesmo lugar, mas numa posição em que sugeria que caminhavam para lá.

Tentei me aproximar da margem, ela bloqueou.

Um frio se apoderou do meu corpo, na escuridão só via alguns vultos. Mas era certo, do outro lado havia alguém.

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