quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ela levou a melhor moldura...

Ainda quebraram a maçaneta...


Já era o terceiro dia que aquele homem aparecia.
Trajado displicentemente ele passou esbarrando em mim, percebi que o segurança também estava achando estranho, mesmo por que é raro alguém ir ao museu e mais raro ainda por dias seguidos.
Ele parava encostado à parede olhando fixamente para um dos quadros de autoria desconhecida, havia sido encontrado durante uma limpeza nas casas antigas e abandonadas da cidade.
Entre meu abrir e fechar reparei seu modo incessante de mover os pés, o suor estampado em sua camisa e sua respiração acelerada. Ele passava ali toda à tarde, vez ou outra anotava algo no caderno e no fim do dia saia se esbarrando em mim novamente, ninguém respeita uma porta.
No quarto dia ele chegou mais cedo, me empurrou mais delicadamente (se é que existe empurrar delicado), com cabelo alinhado, calça jeans, camisa de manga longa, sapato social e um saco de mercado nas mãos. O segurança pediu para que deixasse a identidade no balcão, ele mexeu os pés, entregou e seguiu quase correndo para sua parede, chegando lá suspeitei que tivesse piscado o olho para a mulher do quadro.
Não duvidaria se me contassem que era um louco.
Puxou uma flor pequena do saco e ficou segurando enquanto sussurrava coisas ao pé da pintura de cores claras e expressão vibrante.
Foi embora mais cedo deixando um sorriso fugaz para mim.
Durante a madrugada soube que as paredes ouviram sons de sapatilhas e de papel sendo rasgado, da minha posição não via muita coisa, mas a moldura se locomovia e ia em direção à janela.
Era uma fuga de amor.
No dia seguinte a correria foi grande, ela não estava mais ali, muito menos ele.

A janela pediu para que eu parasse de ranger. Ah, meu bem, as portas fofocam! Não pense que somos reles paredes que só tem ouvidos.



Foto tirada em flagrante.



¹Agradecimento especial a Vanny Araújo por ceder sua imagem para o loucuracontagiosa.

2 comentários:

Dona Boneca disse...

Se as portas fofocam, meu bem, não sei ao certo se souuma louca errante contagiada por ti, a mulher e o quadro...
Mas de uma coisa tenho certeza:
"Era uma fuga de amor"...

*.*

Anônimo disse...

aHSOUAHS adorei ;D