segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eu sou o meu próprio farol


Sempre defendi o meu cabelo natural, talvez Freud explique dizendo que é uma forma de afronta à sociedade, uma rebeldia para escapar aos padrões impostos no seio do grupo familiar, não sei. O que sei é que já tive alguns problemas e poucas soluções nessa minha busca, minha última tentativa foi a melhor e ao meu ver a mais radical.



Cortar o cabelo é simples, você e uma tesoura podem fazer o serviço em poucos instantes, no meu caso não levou mais do que uma hora para tirar uns trinta centímetros de cabelo alisado e deixar apenas o natural que estava com seus poucos quatro centímetros de crespo. Já escrevi aqui sobre isso, falei algo do corte e da necessidade de me conhecer, saber como eu sou sem os disfarces da química e amar desse jeito o meu reflexo no espelho.

Após quase três meses estou eu aqui novamente desaguando nesse assunto.


Pois é, não é fácil. Não estou dizendo que não me sinto bonita ou que há algum arrependimento, pelo contrário. Não é fácil olhar nas revistas, na televisão, na música e dificilmente encontrar alguém com o cabelo natural e crespo. Não é fácil não se reconhecer e não ter uma identidade, só quando você passa por isso pode sentir o quão árduo pode ser. Olhares, cochichos, pensamentos que nos chegam através de pequenas atitudes. Pensamentos cheios de curiosidade e preconceito. Revejo o vídeo feito por Zina Saro e observo nela a quase loucura que se passa em mim, ela fotografa mulheres com cabelo crespo/cacheado nas ruas e lhe incomoda a imposição dos cabelos alisados, eu sinto a mesma necessidade, às vezes fico feliz só em encontrar na rua um(a) desconhecido(a) com o cabelo crespo como o meu.
Nessa procura por ser, me aceitar e ser aceita já me deparei com inúmeros filmes e documentários, blogs, grupos no facebook todos transbordando de relatos, mulheres afogadas nos parâmetros e prisões sociais, umas por que  gostam e são conscientes disso, mas outras tantas presas e se libertando aos poucos do fardo que é não ser natural, da insegurança que permeia o seu ego.
Dia de verão =)
Durante alguns dias quis ver minhas fotos de quando era criança, quis me reconhecer nelas e quem sabe tranquilizar essa minha falta de identidade. Achei alguns álbuns e salvo minhas fotos de bebê e uma ou duas outras, eu estava em todas com o cabelo alisado. Baguncei a estante não acreditando que seria possível eu não ter fotos com o cabelo natural, lembrei de uma foto que tirei durante um passeio em que estou com as madeixas cumpridas e soltas como uma juba, mas não a encontrei.
Olho no espelho, olho como se me perdesse no meu próprio rosto.

Acho que a primeira vez que ganhei uma boneca negra foi há poucos anos atrás, de pano com os cabelos de lã enrolados em pequenos gominhos. Talvez agora eu entenda melhor o motivo de uma criança, filha de uma conhecida da minha mãe, com seus seis anos, negra de cabelos crespos, afirmar ser branca e loira. Ela ainda não achou onde se reconhecer.

Enquanto isso vou sendo o meu próprio farol.


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Obs.: Sei que parte de tudo isso pode ser "nóia" minha, mas convenhamos, aonde há fumaça há fogo.
Algumas besteiras do dia a dia. Escrevi "crespo" no google e ele me mostrou inúmeras páginas de "liso", por causa disso fiquem felizes com uma foto minha alí em cima. rsrs
Uma outra curiosidade. Ontem pesquisando sobre mulheres com cabelo crespo descobri algo denominado Circassian Beauty, vocês podem ler mais nesse blog http://www.memoriavintage.com/2011/08/08/325/ .




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