Sempre defendi
o meu cabelo natural, talvez Freud explique dizendo que é uma forma de afronta
à sociedade, uma rebeldia para escapar aos padrões impostos no seio do grupo
familiar, não sei. O que sei é que já tive alguns problemas e poucas soluções
nessa minha busca, minha última tentativa foi a melhor e ao meu ver a mais
radical.
Cortar o
cabelo é simples, você e uma tesoura podem fazer o serviço em poucos instantes,
no meu caso não levou mais do que uma hora para tirar uns trinta centímetros de
cabelo alisado e deixar apenas o natural que estava com seus poucos quatro
centímetros de crespo. Já escrevi aqui sobre isso, falei algo do corte e da
necessidade de me conhecer, saber como eu sou sem os disfarces da química e
amar desse jeito o meu reflexo no espelho.
Após quase
três meses estou eu aqui novamente desaguando nesse assunto.
Pois é, não é fácil. Não estou dizendo que não me sinto bonita ou que há algum arrependimento, pelo contrário. Não é fácil olhar nas revistas, na televisão, na música e dificilmente encontrar alguém com o cabelo natural e crespo. Não é fácil não se reconhecer e não ter uma identidade, só quando você passa por isso pode sentir o quão árduo pode ser. Olhares, cochichos, pensamentos que nos chegam através de pequenas atitudes. Pensamentos cheios de curiosidade e preconceito. Revejo o vídeo feito por Zina Saro e observo nela a quase loucura que se passa em mim, ela fotografa mulheres com cabelo crespo/cacheado nas ruas e lhe incomoda a imposição dos cabelos alisados, eu sinto a mesma necessidade, às vezes fico feliz só em encontrar na rua um(a) desconhecido(a) com o cabelo crespo como o meu.
Nessa
procura por ser, me aceitar e ser aceita já me deparei com inúmeros filmes e
documentários, blogs, grupos no facebook todos transbordando de relatos,
mulheres afogadas nos parâmetros e prisões sociais, umas por que gostam e são conscientes disso, mas outras
tantas presas e se libertando aos poucos do fardo que é não ser natural, da insegurança
que permeia o seu ego.
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Dia de verão =) |
Olho no
espelho, olho como se me perdesse no meu próprio rosto.
Acho que a
primeira vez que ganhei uma boneca negra foi há poucos anos atrás, de pano com
os cabelos de lã enrolados em pequenos gominhos. Talvez agora eu entenda melhor
o motivo de uma criança, filha de uma conhecida da minha mãe, com seus seis
anos, negra de cabelos crespos, afirmar ser branca e loira. Ela ainda não achou onde
se reconhecer.
Enquanto isso
vou sendo o meu próprio farol.
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Obs.: Sei que parte de tudo isso pode ser "nóia" minha, mas convenhamos, aonde há fumaça há fogo.
Algumas besteiras do dia a dia. Escrevi "crespo" no google e ele me mostrou inúmeras páginas de "liso", por causa disso fiquem felizes com uma foto minha alí em cima. rsrs
Uma outra curiosidade. Ontem pesquisando sobre mulheres com cabelo crespo descobri algo denominado Circassian Beauty, vocês podem ler mais nesse blog http://www.memoriavintage.com/2011/08/08/325/ .
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