quarta-feira, 1 de julho de 2009

Pois é.

A rua cheia de pés, mãos, braços, coxas, bundas, peitos, dedos, bocas, conhece o vazio de ter tanto e tão pouco. Vai passando tão rápido sob os pés que possui tudo, mas apenas por um instante e nada mais.

Foi em uma dessas ruas cheias de gente e camelôs que um livro se perdeu.
Um livro? Você vai pensar e fazer cara de paisagem, pois é, um livro.
Mas e daí? A sua cara de paisagem é uma coisa a se considerar.
Achei ele tão sozinho e carente no meio dos pés amontoados que resolvi olhar mais de perto. Tá rasgadinho na aba e amassado por dentro. Virei uma página com a sandália.
Roído por dentro... Papel novo, mas todo furado.
Me abaixei perto do poste e fingi catar alguma coisa enquanto pensava. Mas olha só! Deparei com o meu ridículo de justificar com pessoas que nem sequer estavam me vendo ali, a menos quando esbarravam. Sentei.
Sentei naquele chão sujo onde as baratas correm junto às ratazanas pela noite, chão cuspido, urinado, defecado por pássaro, gato, cachorro e gente, esfregado apenas com água da chuva e encerado por pneus.
Sentei.
Qual a diferença do ser humano pra uma baratinha?
Pensamentos?
Balela! Balela pura!
O ser humano é feito de desespero pela sobrevivência tal qual um inseto.
Onde o pensamento se encaixa?
Na agonia, na frenética agonia do ser ou não ser.
O desespero move um homem para o progresso ou para a morte, faz pensar, sentir, agir. Mesmo que seja pensar em nada, sentir o nada, agir? Desespero foi tamanho que ficou parado, mas é dele que surge o descobrimento da força e da fraqueza.
Sentei com o livro do meu lado, olhei tão de perto que não vi nada, estava quase inteiro, mas era qualquer língua que não a da minha boca.

8 comentários:

Amanda Oliveira disse...

Sobre o meu comentário no post anterior, quis dizer que tive a sensação de ter escrito o seu texto. Tipo, você leu meu pensamento... Enfim, beijo!

Anônimo disse...

Que texto lindo (L)

Anônimo disse...

Retribuindo a visita e sendo muito bem recebido, por sinal.

Como são felizes essas epifanias. O que mais me identificou no seu texto é o fato de (assim como eu) teorizar a nossa pequena importância. Parabéns.

Luiz Phelipe disse...

.

Anônimo disse...

Querida amiga avassaladora...estou muito curiosa entre dois momentos ...O que aconteceu entre o momento em que voce escolheu nomear os comentarios como "alegrias" e a publicação dessa cronica?
está bem escrita, mas tem um peso acido que não combina com "alegrias"... estou delirando ou sendo perceptiva?

Ba Moretti disse...

Gostei do texto! Tanto que acompanharei os próximos e terei o prazer de ler os antigos.

Anna Fortuna disse...

Também retribuindo a visita! Belas e importantes palavras encontrei no seu blog.

Anônimo disse...

o/