sábado, 18 de setembro de 2021

O ano que não terminou

 Hoje eu descobri que em 2020 não postei no blog. 

Nenhum texto verteu o ano mais desorientado da minha vida. 

Nenhuma rima registrou as mudanças que passei.

Um ano como uma folha em branco, onde as palavras se acovardam a achar espaço. 

2020 não teve registros, mas ele separou, misturou, triturou, bagunçou e não arrumou tudo o que podia e não podia. 

Ele sambou, bebeu e vomitou atrás do carro. Caiu no chão e ficou lá largado esperando a tarde do dia seguinte chegar. 

2020 andou, mas também correu. Dias longos e semanas que passavam depressa. 

Lágrimas que ardiam o rosto, como pimenta de baiana. 

2020 bateu a porta com força e fez perder o sono. Deixou marcas, silêncios profundos no barulho do dia.

2020 quebrou os pratos, os copos e levou os talheres de prata. Depois foi embora, mas ameaçou voltar. 

Como um prato de sopa quente, queimou a língua de muita gente. 


Ô Deus, se acabar a dor também acaba a vida? 


Nenhum comentário: