sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Vinicius


Assisti um filme hoje pela indicação de alguém que irei chamar de Beija-flor, me identifiquei com a história, com os personagens e com a trilha sonora. Teria como ser melhor? O interessante é que lembrei um pouco de uma história antiga que tentei imaginar ou melhor que tentei não esquecer. Vinicius é o nome que escolhi para a criança que vi em um dos meus sonhos há alguns anos atrás, naquela noite meu inconsciente me disse que ele era meu fruto, ele ia me contar uma história que de alguma forma eu havia lhe contado e escrito. Acordei antes de ouvir e até hoje tento imaginar o que ele iria me falar... Ah, que saudade do desconhecido... Que saudade...

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Já faz um tempo que eu penso em você, como se parece e se um dia irei te conhecer de verdade. Hoje, depois de tantos anos que nos encontramos lembrei do lugar sobre o qual você iria me contar, lembrei como se houvesse visto em uma foto e guardado em algum lugar da minha memória. Mande notícias pelo meu subconsciente...


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Quando abri os olhos me vi rodeado por montanhas, ao longe um campo verde escuro se estendia até aonde as minhas vistas poderiam alcançar depois de se encontrarem com os raios de Sol. Não tenho noção do tempo nem a direção para qual devo seguir, sei apenas que é dia, estou entre algumas pedras e onde me encontro a vegetação não chega a cobrir todo o solo, há um caminho entre as pedras e mais além não vejo sinal de outra pessoa ou mesmo um animal.
Levantei devagar e percebi que estava morrendo de fome. Céus! Onde estou? Não encontrei minha mochila... Como eu poderia sair sem minha mochila? Comecei a andar em busca de algum sinal, talvez eu tivesse sido sequestrado, roubaram meus órgãos, apagaram minha mente e de alguma forma sobrevivi, mas não havia sinal de cirurgia, não havia nada. Passei a mão pela nuca e percebi que estava com uma marca enorme da pressão que exerci na pedra enquanto estava deitado. Quanto tempo eu haveria passado daquela forma não consegui imaginar.
Talvez por parecer um caminho mais limpo e fácil comecei a andar em direção ao cume da montanha, talvez se conseguisse alcançar uma maior visibilidade pudesse ver um vilarejo ou um local para me abrigar e comer alguma coisa. Minha barriga ronca e sinto como se estivesse a dias sem ingerir algo.
Caminhei por pelo menos duas horas ou dez minutos tão longos quanto duas horas e encontrei algumas abelhas, um coelho ou um rato grande parecido com um coelho, tropecei n vezes e tive que sentar antes de desmaiar de fome, deitei no chão e o Sol que parecia agradável começou a me provocar um incomodo terrível, estava passando mal sozinho em um lugar que não fazia ideia de onde era, a visão foi se apagando, tentei me arrastar para um lugar com sombra. Vinicius, você não pode morrer aqui, pensei e dois segundos depois não havia mais nada além da escuridão. Havia desmaiado.
Acordei novamente no que deveria ser o final da tarde e quando finalmente o Sol se pôs cá estava eu, vivo e sem abrigo. Desejei continuar desmaiado, pois pelo menos o medo não seria intenso e quase personificado em meu ser, o barulho do vento me assustava ao ponto de eu começar a chorar como quando era criança. Não fazia frio nem calor àquela hora, mas em meu coração parecia o lugar mais gélido do universo. Não havia Lua e as estrelas eram tantas que me deixavam tonto, sempre fui fascinado pela noite e um céu daqueles era digno de ser admirado por toda eternidade da minha vida finita. Levantei e me abriguei entre as raízes de uma árvore, a sensação de ter um local protegido me ajudou a parar de chorar, coloquei as mãos dentro do casaco que estava vestindo e percebi ter um bilhete e algumas folhas de hortelã, masquei-as e tentei ler o que estava escrito - Segunda travessa entre as margens do rio. Era minha letra, o papel estava amassado e de alguma forma eu não lembrava quando foi que o escrevi ou guardei. Fiquei acordado a noite inteira e assim que o dia começou a clarear fiz a decisão que iria me guiar até o fim – Eu vou sobreviver, custe o que custar.
Continuei no caminho e antes do meio dia já tinha encontrado umas frutas possivelmente comestíveis e que me sustentaram por toda a manhã, todo o tempo me senti observado como se algo ou alguém estivesse me acompanhando. Tentei ouvir passos, fiz alguns caminhos tortuosos e quase desmaiei novamente, mas a sensação não passou, havia mais alguém ali.
Ao entardecer eu comecei a ouvir o som de água corrente, mas escurecia rápido e preferi me abrigar antes do anoitecer, catei algumas pedras para me defender caso algum animal aparecesse e deitei, fechei os olhos e por alguns instantes ouvi algo que parecia o caminhar de alguém leve e quase imperceptível, me concentrei ao máximo e o som se aproximava, tentei segurar uma das pedras e abrir os olhos sem muitos movimentos, alguém estava ali, eu podia sentir sua presença ao meu redor, o medo foi me possuindo e quando consegui focalizar entre o mato vi uma pessoa que devia ter não mais que um metro de altura, branca, cabelos claros quase tão brancos quando a pele e os olhos avermelhados, vestia uma calça de couro, uma bota amarrada próximo aos joelhos e uma longa camisa marrom que cobria até os cotovelos, na cintura carregava uma bolsa e algo que poderia ser uma faca. Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo. Estranhamente linda e assustadora. Permaneceu imóvel, sabia que eu estava olhando para ela, ainda a encarando sentei e ficamos assim não sei por quanto tempo, levantei e ela recuou, falei meu nome, pedi ajuda, dei dois passos e ela correu tão rápido que quando alcancei o local em que estava já não tinha mais sinal da sua presença, encontrei no chão uma massa dura que parecia pão e uma garrafa com água. Escureceu a ponto de eu não enxergar um palmo a minha frente e essa noite não consegui dormir novamente imaginando quem seria ela. Comi e bebi água, me senti grato e não pude evitar um sorriso, apesar de não fazer ideia do que estava acontecendo ter encontrado ou quem sabe ser encontrado por outro alguém parecia deixar a situação melhor.





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