terça-feira, 15 de junho de 2010

Chuvisco e visco, sem esitar.

Um corpo meio cinza, dois chifres amarelos e pés desproporcionais ao tamanho do corpo. Seus olhos esbugalhados nada viam, seu nariz não sentia mais o cheiro, só reconhecia a maresia. Dentro de si parecia não haver mais nada, apenas sua boca vermelha guardava seus dois dentes afiados.
Não sabia falar direito, andava a custo e não tinha braços.Sua vida desde que nascera havia sido sentar na sua caneca preta e navegar pelos mares. Quando fazia frio queimava o tempo, exalando uma grande fumaça que lembrava chocolate quente.
O vento decidia a direção a tomar e por muitas vezes andava em círculos pelo mundão das águas.
Seus chifres de nada serviam a não ser para assustar as pessoas.

Há muito tempo, chamaram-no de Golden, por causa de seus chifres e pés amarelos. Foi crescendo e mais assustador parecia ficar. Quando aprendeu a andar foi deixado em uma cabana perto do mar.
Um dia uma caneca grande e preta apareceu entre as ondas, estava vazia.
O rosto triste das pessoas na sua presença fez com que desejasse nada mais ser... Por isso decidiu ir embora e aos poucos foi se esquecendo do mundo, vivendo de céu, mar e solidão.


Enquanto a caneca se embolava na areia, ouviu o riso de algumas pessoas, o choro de uma criança e pelos sons deveria ter uma festa ali perto. A caneca virava com as ondas e ele se segurava com os dentes. Sentia um grande frio por dentro ao ouvir aquela alegria.
Sua caneca ficou presa entre as pedras e durante toda a noite sentiu frio e medo.
Dos seus olhos vazios e sem vida saíram lagrimas, e pela primeira vez quis ter braços. Queria sentir como seria um abraço, ainda que fosse um abraço dele e ele mesmo. Do seu corpo vazio veio a tristeza.
O vento, cruel, empurrou a caneca para longe das pedras. O som das pessoas foi ficando longe e cada vez mais ele voltava a sua solidão.
Na imensidão das águas não sabia se sentia cheiro de sal de lágrima ou sal de mar.

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