domingo, 11 de outubro de 2009

Todo mundo conhece as amiguinhas...

“Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”.

L. Wittgenstein



Assim que nascemos somos mergulhados num mundo construído de palavras.

Talvez, antes mesmo de nascermos já exista o contato indireto entre o novo ser e o mundo, mas isso não vem ao caso agora, concordaremos que as palavras só nos atingem após o nascimento.

De quantos símbolos nós somos feitos?

Expressões faciais, corporais, sons, desenhos, pinturas etc.

Utilizamos da linguagem para expressar nossos desejos e dela utilizamos para reproduzir as tantas outras simbologias.

Enquanto não conhecemos as palavras nosso contato com o mundo é pequeno, nossa imaginação é limitada. Digo isso porque a partir do momento em que não consigo nomear algo o fluir da história pára e sinto a cabeça explodir em busca de uma palavra que exprima o que quero.

As palavras fluem com naturalidade durante a conversa até o momento em que nos deparamos com um obstáculo. A falta de léxico. E agora? Acabaram as palavras.

A mente cria diversos universos com a linguagem, um mundo de histórias que nunca aconteceram ou de objetos que não existem, mas se não sabemos manipular a nossa língua de nada adianta porque a idéia ficará eternamente presa em nossa mente, sem palavras os universos estancam e tudo se perde.

Um texto limpo, claro, objetivo e conciso normalmente sai de uma mente limpa, clara e objetiva. Pensamentos atribulados e disparados um por cima do outro dificilmente nos darão tempo e precisão para formular as idéias no papel, eles fogem e são esquecidos antes do limiar lápis e papel, dedos e teclado.

As palavras são tão abstratas, tão loucas e tão intrínsecas que nem reparamos mais nelas. Elas simplesmente estão aí.

O que será que habitaria nossas cabeças se não fossem as palavras? Existiria o pensamento?

As pessoas interpretam o mundo da forma que inventam e aprendem usando as palavras que conhecem.





É mineral o papel
onde escrever
o verso; o verso
que é possível não fazer.

São minerais
as flores e as plantas,
as frutas, os bichos
quando em estado de palavra.

É mineral
a linha do horizonte,
nossos nomes, essas coisas
feitas de palavras.

É mineral, por fim,
qualquer livro:
que é mineral a palavra
escrita, a fria natureza
da palavra escrita.
...

Trecho do poema A PSICOLOGIA DA COMPOSIÇÃO,
João Cabral de Melo Neto




2 comentários:

Uvirgilio disse...

Agora mesmo está me faltando palavras para este post, vc escreve com uma naturalidade, muito bom!

Dona Boneca disse...

"As palavras são tão abstratas, tão loucas e tão intrínsecas que nem reparamos mais nelas. Elas simplesmente estão aí."

E eu por vários momentos cheguei a pensar em parar de escrever... :P

Foi tão bom ler issO.

Ah, vc? Vc me completa!!!! hueheueheu

PS: Ela , molhada pela chuva. Ele, de suor (gostei disso, contraste massa e... enfim, enquanto eles dançam vc evita fadiga :P e eu comento em outro post!!! kkk)