Chegou meu certificado de adulta esses dias, mas não veio por correio nem por e-mail, chegou de surpresa em uma impressão de ausência de ânimo e sentido. Veio no corpo marcado por seriedade, estilo profissional, só que meio sem vida.
De início estranhei, não consegui entender o que era aquilo. Aos poucos fui lendo os sinais e entendendo que havia cruzado a linha da vida adulta. Sem brincadeiras, sem canções, sorrisos curtos e sem graça, olhares vazios. Só podia ser isso.
Tomei mais um copo de água, comprei uma marmita, olhei o notebook com meus compromissos aguardando eu reagir. A dor nas costas não nega.
Sentei, mas não aguentei o peso, tive que deitar. Janela aberta, me cubro com a velha coberta, começo a suar, mas não me movo. Alguns lampejos me mostram que os sinais já estavam aqui, só faltava o golpe final do desânimo até com o que se ama.
Senti falta da correnteza arrastando meu corpo na água, do pincel desbravando pinturas abstratas, dos sorrisos sem sentido e das gargalhadas até chorar. Andar sem rumo na rua com uma paçoca no bolso. Conversar por horas sem fim e não cansar. Ligações que duravam horas e horas. Amizades que faziam qualquer dia cinza um arco-íris. Senti falta de levar a vida numa boa.
Emoldurei meu certificado de adulta com retalhos do que me faz feliz. Busquei do fundo da minha alma tudo aquilo que me faz leve e expremi em uma tinta, joguei por cima do desânimo e da falta de sentido.
A vida não precisa fazer sentido mesmo.
Que seja leve enquanto dure.
Leve como uma pena voando solta pelo ar, que existe e só pela sua beleza em ser já nos faz feliz.