O espelho é um objeto cruel quando não se está
bem consigo mesmo.
Nasci, cresci e me transformei em ideias,
sonhos e realidade.
Um pouco sobre mim
Cortei drasticamente o
cabelo no dia 17 de outubro de 2012.
Cortei por diversos
motivos, para deixar crescer o cabelo natural, diminuir o trabalho de camuflar
o cabelo misto (com química e natural ao mesmo tempo), para dar uma trégua nos
acessórios forçados domadores de cabelo, mas sinceramente, nada disso me
incomodava o suficiente para corta-lo, nem mesmo o trabalho de passar uma hora
tentando desmanchar os nós que os cachos formavam, o principal motivo e quem
sabe eu poderia dizer único motivo que me deu ânimo para fazer isso foi a minha
infelicidade diária com o que via no espelho. Não há nada mais angustiante do
que não ser feliz consigo mesma, não estar bem com a mente e o corpo, não
sorrir feliz ao ver o próprio reflexo.
Cortei minhas mágoas,
meu medo, minha raiva há tempos oculta por não ter tido força e ânimo de me
descobrir alguns muitos anos atrás, quando também tentei deixar de usar a
química e manter o meu cabelo natural. Recordo que um dia voltando para casa
duas meninas que eu nem mesmo conhecia me chamaram de bruxa por eu ter o cabelo
cheio e naquela época bastante maltratado, lembro que tinha meus 14 anos e era
nova demais para entender até onde poderia ir minha própria vontade. Lembro das
pessoas que julgavam a minha forma de lidar com a aparência, meu aparente desleixo.
Lembro do meu discurso interno de valorização pessoal, cultural e social,
expressão da opinião e personalidade, a luta contra a frequente negação do
crespo/cacheado, e o mais importante: a aceitação do indivíduo por ele mesmo. Lembro
de tudo isso durante minha infância e adolescência e tenho orgulho de ser quem
sou, de manter meus ideais aos quais depositei tanta confiança.
Não nego que o período
em que realizei a química foi extremamente importante, pois paralelamente ao
avanço da idade ela me ensinou a ser mais cuidadosa comigo mesma, a prestar
atenção aos sinais do meu cabelo e de três em três meses descobrir a cacheada
que havia em mim (rsrs).
Durante um tempo
pesquisei muito pela internet e descobri inúmeros casos parecidíssimos com o
meu, mulheres que alisaram o cabelo desde a infância por diferentes motivos e
apenas na fase adulta se assumiram como crespo/cacheadas. Isso me dá algumas
ideias, a primeira é de que na verdade grande parte dessas mulheres não nutriam
essa “adoração” pelo estilo liso, apenas não tiveram a oportunidade de
valorizar-se, a segunda ideia é de que muitas mães não sabem o que fazer para
lidar com o cachos das crianças e recorrem a formas de alisamento, a terceira
está intrinsecamente ligada a todas as outras que por economia de palavras não direi
aqui, a desvalorização social e o preconceito, infelizmente presentes em nossa
sociedade miscigenada e rica em diversidade.
Atualmente vou levando
minha vida e me transformando a cada dia.
O cabelo em si é a
representação da minha luta interna.
Só se passaram duas
semanas, contudo,
desde então o sentimento que eu tenho é de pura e sincera
alegria.
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