terça-feira, 15 de novembro de 2011

Rocha

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Nascida na terra, marcada por vento, chuva e sol, lapidada pelo tempo e bonita como a natureza.
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Rocha era assim, menina faceira e manhosa, manha de carinho, jeitinho de doce de tamarindo com coco, corria quando criança pelas ruas parecendo um passarinho. Antigamente Rocha era nossa Isabel porque é prima de Maria, filha de Seu Zeca e de Dona Luciene.
Isabel cresceu em uma casa pequena. Tinha um quarto que se dividia com a sala por uma cortina de lençol, uma cozinha e do lado de fora havia a pia de cortar carne e lavar pratos, o banheiro e o quintal que era maior que a casa.
Isabel nunca reclamou, flor de menina que era cosia e limpava na casa do barão. Vez ou outra levava maçã e biscoito de goma pra casa... Um dia mesmo, lembro que teve guaraná na casa do barão, escondido ela encheu o vaso de manteiga e levou pra casa pra que os irmãos e a mãe soubessem o que era. Não deu outra! A mulher do barão que já não gostava dela - más línguas diziam que o barão jogava charme pra cima de Isabel - tirou as cartas da manga e mandou a menina embora.
Isabel já era moça, tinha o corpo formoso que só a juventude sabe moldar, a pele morena de sol e parecia que passava o dia inteiro tomada banho pois cheirava sempre a sabão. Tornara-se lavadeira.
Dia após dia Isabel sentava na pedra à beira do rio e esfregava as roupas, lavava pra se sustentar pois em casa muita gente andava morrendo de diarréia.
O tempo passou... Isabel sumiu pela roça.
De manhã cedinho, tinha acabado de raiar, quando fui levar o boi pra beber água vi lá Isabel deitada de bruços abraçada à rocha. O sangue escorria entre as pernas junto à criança presa ao cordão.
Corri pra socorrer. Sacudi a Isabel e nada, tirei a criança, e olha lá! Estava viva, mirradinha de magra, chorava baixinho, nem lágrima tinha mais...
Lembro que o céu estava azul com as nuvens douradas pelo amanhecer e eu em pânico ouvia o barulho das águas correndo entre as pedras levando aos poucos a vida como quem solta um passarinho.

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