quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O galpão

Acordei jogado em uma trouxa de roupas fedorentas. Tentei levantar, mas o corpo inteiro doía como se tivesse levado uma surra, tremia e suava.

Deitei novamente naquela trouxa e olhei ao redor. Existia uma escada e aparentemente eu estava embaixo dela, o chão esburacado exibia uma fissura enorme e que eu esperava não precisar pular tão cedo, no céu uma fumaça tirava a visão e escurecia o que parecia ser o dia.

Levantei devagar e descobri que no topo da escada tinha um portão semi-aberto, entrei e me deparei com um grupo de homens, mulheres e crianças acabadas de cansaço se esgueirando entre os cantos daquele galpão.

Tentei lembrar o que havia acontecido, mas minha cabeça doía tanto e a barriga mais ainda que preferi procurar o que comer e deixar isso pra depois.


Qualquer um em sã consciência só em olhar já poderia dizer que não havia uma migalha naquele lugar. Desci as escadas e me aproximei de uma criança deitada de bruços perto da quina do galpão, apertei seu braço e estava tão gelado quanto o chão, dei mais uma olhada e nenhum movimento dele. De costas, deitado com os braços esticados acima da cabeça e as pernas tão tortas em relação ao corpo, eu jurava que estava morto, mexi no seu casaco a procura de algo principalmente se fosse de comer, tentei vira-lo para frente, mas estava pesado ou quem sabe grudado no chão. Larguei a idéia de virar o corpo, até porque não fazia idéia de como estaria e se me faria vomitar aquilo que não tinha no meu estomago.

Passos curtos vinham por trás de mim. Um cachorro com um saco na boca passava agora do meu lado e eu com minhas miseras forças fui disputar aquela droga velha e podre com ele. Dois rosnados e eu já havia largado o saco, não me parecia um dia de sorte, mas digo com nenhum orgulho que consegui pegar um pouco daquela coisa mofada.


Depois do que talvez tenha sido uma ou duas horas - quem sabe toda à tarde já que a luz do céu parecia sempre a mesma com toda aquela fumaça – andei pela rua deserta e tirando os gemidos que vinham vez ou outra abafados de dentro do galpão só se escutava meus passos e o zumbido do vento.

Parecia que estava em algum tipo de roça já que mesmo me afastando bastante do galpão só havia me deparado com umas três casas que agora já estavam quase arruinadas, o restante era plantação e pasto.

Cansado, com fome e cheio de dores no corpo sentei e fiquei olhando aquele horizonte montanhoso que aos poucos ia se transformando.


Cai no sono e quando acordei vi uma criança com casaco cinza, grosso e de colarinho alto, com cabelos negros, curto e embolado perto dos meus pés. Não foi difícil reconhecer o menino que eu achei que estava morto há pouco.

Ele virou para mim aquele par de olhos grandes e claros, tão claros que iluminavam sua face magra.

Me correu um frio na espinha, mas era só uma criança e crianças não fazem mal, assim eu espero.

Um comentário:

Habib Sarquis disse...

ow loko cara que conto surpreendente. Quero ver a continuação disso.

Abraços.

Blog: Cultura Dinâmica - www.culturadinamica.wordpress.com