Eu estava para passar por aqui, mas acabei me perdendo no
caminho.
21 de setembro, uma homenagem ao desconhecido.
Ela já havia passado mais de quatro horas sentada no banco do
ônibus e mesmo assim não havia conseguido um minuto livre para por em ordem os
pensamentos dos últimos dias, pelo visto a programação de refletir sobre a vida
ficaria para outra hora. Fazia um tempo que não se dedicava a pensar sobre
alguns fatos ou mesmo se auto analisar, os dias se transformaram em um relógio
contínuo de procedimentos e conversas. A necessidade de um período de solidão
urgia.
Enumerou os desejos de criança, os atuais, as realizações e
perspectivas e fez uma interseção. Quem diria que a vida iria caminhar desse
jeito. Se fosse um jogo de lego ela veria as peças se encaixando de forma
amontoada, abstrata. Desejou que no futuro pudesse olhar novamente e enxergar
algo menos parecido com uma incógnita.
Uma neblina densa surgiu
na estrada. E se o ônibus batesse e ela morresse naquele exato momento? Todos esses
instantes de vida escorrendo como farinha de tapioca entre os dedos,
presa pelo cinto de segurança e sem espaço para libertar o instinto de
sobrevivência.
Sabia que o instinto a guiava em diversas situações a menos se fosse assalto e principalmente se fosse no amor. Ah, o diabo do amor! Acreditar ou não nessa porção de endorfinas e
sinais adrenérgicos? Valeria a pena viver ensandecida entregue a emoções?
Deixava essas questões nas mãos do instinto e se entregava, mas na primeira
ameaça sua lógica, assim como o cinto de segurança, a segurava pela cintura.
Presa pela lógica...
Entre a neblina e o farol dos carros reviveu. Sentiu o carinho
esquecido subir à tona da memória, o sorriso e as lágrimas presas em alguma
sala escura sendo revelados por um lapso. Por que havia se esquecido dos bons
momentos? Por que os tinha escolhido? Por que viver entre fugir e ficar?
Dirigiu sua mente de forma defensiva e se preparou para
colocar o cinto da lógica novamente, se preparava buscando um motivo
para acreditar e nada mais. Desejando acreditar como os religiosos ou os ateus, cheios de convicção.
Vivendo a busca, sofrendo em vão. Porque nem sempre precisamos ser racionais.
Gosto das minhas dúvidas tanto quanto das certezas.
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